Embora as portas tenham sido abertas às 19:00hs, show mesmo só começou mais tarde, o que foi muito bom, pois todos puderam entrar na casa com tranquilidade, tomar uma cerveja, conversar com os amigos e amigas, afinal, era uma sexta feira e muitos de nós que vamos para lá enfrentamos à estrada.

    Isso durou até por volta das 21:40, quando pudemos ouvir a introdução, que amplificou o clima e a energia do show e trouxe Bruno Valverde na bateria, Felipe Andreoli no baixo, Marcelo Barbosa e Rafael Bittencourt nas guitarras e Fabio Lione nos vocais para executarem Newborn Me do Secret Garden de 2014 do primeiro registro de estúdio com o vocalista italiano. Nessa música, Fabio Lione já demonstrou seu enorme carisma ao comandar a plateia com as mãos garantindo os "hey... hey... hey..." e Felipe Andreoli se posicionou à frente para o primeiro momento em que nos mostrou sua técnica no baixo. Por falar nisso, quem também mereceu um destaque logo de cara foi Marcelo Barbosa solando com facilidade - para ele é claro - sua guitarra.

    Retornando para um dos clássicos e para o álbum que me levou a conhecer o Angra tivemos em seguida Nothing To Say do Holy Land de 1996, que a plateia 'descobriu' logo em suas primeiras notas, gritou vários "hey... hey... hey..." e cantou seus versos com Fabio Lione fazendo o Estúdio Mirage Eventos pulsar com a banda, que apresentou uma versão primorosa da canção. Inclusive, além do potencial de voz que o vocalista é possuidor, ele interpretou muito bem esta música gravada com o saudoso e mestre do Heavy Metal Brasileiro Andre Matos.

    Bastante aplaudidos e apenas agradecendo com sorrisos, o Angra disparou a terceira na sequencia com outro clássico, agora com a emblemática Angels Cry ( título do primeiro cd de 1993 ), que estava também na ponta da língua dos fãs, que acompanharam a atuação de Fabio Lione e os sempre impactantes riffs feitos por Marcelo Barbosa e Rafael Bittencourt em suas guitarras.

    Foi só então que Fabio Lione conversou com a galera para comentar que a banda ( adoro o jeito que ele fala "a banda" ) estará com um novo álbum para o final do ano ( o Cyrcles Of Pain que já estamos ansiosos e curiosos para saber como ficou ) e então anunciou que tocariam uma música do Ømni  ( de 2018 ) com a ótima Travelers Of Time, que é embasada nos seus solos de guitarras e na forma que Fabio Lione solta os seus vocais agudos com direito à Rafael Bittencourt cantar um trecho aprofundando nossa atenção à composição.

    Fabio Lione convocou todo mundo para cantar com ele a próxima do set, mas, ao percebemos que se tratava de Lisbon - outra que pertence à lista das melhores e mais cativantes canções da história do Angra - reagimos cantando e aplaudindo no ritmo com o quinteto nesta excelente escolha para relembrar do álbum Fireworks de 1998. Nos solos, Fabio Lione andava pelo palco e clamava pelos nossos "eeeeeeiiiiii", o que atendemos prontamente.

    Aos gritos de "Angra... Angra...", o vocalista comenta rapidamente que estão realizando a turnê de 30 anos e Felipe Andreoli dedilha seu baixo trazendo a relativamente sombria Ego Painted Grey do Aurora Consurgens de 2006, onde além da interpretação feita pelo italiano tenho que enaltecer os solos feitos por Marcelo Barbosa em sua guitarra e o trabalho do baterista Bruno Valverde em que vimos porque ele foi convidado para tocar ao lado de Adrian Smith e Ritchie Kotzen nos shows realizados nos Estados Unidos onde mora.

    Tão contente quanto nós, Fabio Lione disse-nos que a seguinte seria do Temple Of Shadows de 2004 e eu esperava que escolhessem uma das músicas mais rápidas e pesadas do álbum, mas estas já foram tocadas tão exaustivamente ao longo da carreira, que a escolha de Late Redemption foi demasiadamente acertada e Rafael Bittencourt cantou suas partes em português que no disco ficaram à cargo do ícone Milton Nascimento, porém, ele foi acompanhado por todos nós resultando em um dos momentos mais belos do show e além das imagens no telão que sempre ganhavam nossa atenção, outro ponto que tenho o dever de comentar é o lindo baixo de dois braços que Felipe Andreoli utilizou nesta música.

    No breve descanso para a banda, Fabio Lione mostrou toda a conhecida robustez de sua voz brincando com ela e pedindo para que nós repetíssemos o que ele fazia, entretanto, para meros mortais não é fácil acompanhar um tenor, sim... Fabio Lione é um tenor e adora música clássica.

    Isso serviu para que Rafael Bittencourt - portando um violão - trouxesse a balada Rebirth, que foi cantada à plenos pulmões por todos nós, sensibilizados com esta canção que marcou o retorno do Angra com sua então nova formação em 2001 e cravo aqui: é sempre um prazer ouvir e ver a banda tocando esta música, que só me traz boas memórias de quando vi o meu primeiro show do Angra em Amparo/SP no festival de inverno da cidade em 2001. E na versão desta noite em Limeira/SP, Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa solaram brilhantemente com direito à um prolongamento no violão, que se a ideia era de causar mais emoção em nós... eles conseguiram.

    A reação dos fãs foi de gritar o nome da banda repetidamente, entretanto, depois de um momento mais calmo jogaram a sua eletricidade novamente com Winds Of Destination, cuja versão em estúdio contou com Hansi Kürsh do Blind Guardian, aumentando assim a tarefa de Fabio Lione, que ele cumpriu com louvor e nós na plateia ficamos felizes com a sua atuação reluzente, assim como os solos repletos de técnica de Marcelo Barbosa e Rafael Bittencourt demonstrando quão afiado este line up do Angra está. Um fã berrou "puuuuta que pariuuu" e o esperto Fabio Lione percebeu e brincou: "puuta que...." despertando risos em quem notou o que aconteceu.

     Aos dedilhados, a viagem pelos 30 anos do Angra passou pelo álbum Aqua de 2010 com a belíssima Lease Of Life, onde reparou-se a dedicação de Fabio Lione ao cantá-la nesta noite no Estúdio Mirage Eventos. Com um singelo "Obrigado", Fabio Lione agradece, falou que a próxima música é especial e que precisaria de nós, pois, em sua versão de estúdio temos a presença da cantora Sandy e Alissa White-Gluz. Bem, Fabio Lione fez as suas partes e os guturais da vocalista canadense e Rafael Bittencourt os vozes da brasileira em Black Widow's Web garantindo a empolgação dos fãs. Em seguida, Fabio Lione fica sozinho no palco para mais uma vez liberar todo a capacidade de sua voz e outra vez convocar nossa participação culminando posteriormente em gritos de seu nome.

    Quem retornou no palco e conversou com a plateia foi o Rafael Bittencourt questionando quem estava pela primeira vez assistindo ao Angra e visivelmente emocionado, ele disse que o Angra já tem 32 anos e relembra do começo, época que junto com Andre Matos compôs a música Reaching Horizons, que intitulou a primeira demo-tape da banda em 1992 e apresentou para nós nesta noite de forma intimista sozinho no padrão banco e violão chegando a inclusive a lacrimejar seus olhos, pois, acredito que nesta hora um filme passou em sua mente, onde tudo que fez de certo e errado neste tempo todo é trazido à memória em altíssima definição.

    Agradecendo bastante, Rafael Bittencourt comenta que neste show eles celebram o legado da banda e todos os músicos que passaram pela banda, inclusive, um que não está mais entre nós ( segundo ele ao menos neste plano astral ) e para homenageá-lo, ele pede para que Fabio Lione retorne no palco para que nas palmas fossemos brindados com a encantadora versão acústica de Make Believe do Holy Land, cuja nossa reação foi de cantar novamente cada verso com a dupla no palco com direito a alguns prolongamentos feitos por Fabio Lione que se revelaram ainda mais esbeltos.

    Rafael Bittencourt com toda a sua calma começa a apresentar a banda e o primeiro foi o guitarrista Marcelo Barbosa dizendo que é um dos maiores nomes da guitarra no Brasil e no mundo e que tem o maior orgulho de tê-lo na banda e assim, o guitarrista foi ovacionado pelo público; depois o garoto Bruno Valverde ( que segundo ele é uma revelação mundial no instrumento e cá entre nós... é mesmo ), que também teve o seu nome gritado por todos; em seguida disse que queria nos contar de uma pessoa que o acompanhou em muitos altos e baixos, muitos álbuns, enfim, segundo ele: "o maior baixista da atualidade" e então anunciou Felipe Andreoli, que tal como os demais também teve seu nome berrado e aplaudido. Logo depois foi a vez de Fabio Lione ficar com a missão de introduzir o Rafael Bittencourt para ganhar este então recebesse os aplausos dos fãs.

    Com todos devidamente apresentados, hora de retomar o show com outra do Temple Of Shadows com a Waiting Silence que trouxe toda aquela vibração em sua execução, levou Felipe Andreoli novamente à frente por um momento para nos mandar seus fortificados toques no baixo, também contou com os exuberantes solos de Marcelo Barbosa e Fabio Lione cantando com muita determinação.

    Uma grata surpresa no show foi a inclusão da balada Bleeding Heart do Rebirth, que antes de tocá-la Fabio Lione pediu para ligarmos as luzes dos celulares e que era a última vez que pedia isso e foi plenamente correspondido pela plateia, sendo que somando os celulares com a iluminação perfeita no palco tivemos um momento singular no show.

    Precedida por uma introdução mais longa nos solos de guitarras e contando com toda a interpretação repleta de sentimento de Fabio Lione tivemos uma das melhores do álbum Ømni com a Magic Mirror provocando assim nossa resposta ao cantar com ele o refrão e também os olhares atentos aos solos de guitarras em uma linhagem mais Prog Metal dotada de melodias esplêndidas marcando a última música antes do bis.

    Obviamente que mesmo completamente extasiados com este excelente show do Angra nós queríamos mais e clamamos a volta da banda no palco o quanto antes com gritos de "Angra... Angra... Angra..." e "Olêêêêê... Olêêêê... Oláááá... Angraaa... Angraaa". Isso não tardou a acontecer e pouco depois ouvimos os acordes de Unfinished Allegro que é a predecessora do clássico máximo do quinteto lá do primeiro álbum... estou falando de Carry On do Angels Cry, que chegou arrasando quarteirões colocando o Estúdio Mirage Eventos abaixo pela euforia que nos causou, pois, pulamos, cantamos, socamos o ar e com um enorme sorriso no rosto por mais uma vez ( ou para alguns... pela primeira vez ) estarmos diante do Angra executando esta música.

    Detalhe... eles pularam a parte final da música e o refrão e a ligaram direto à Nova Era do Rebirth incendiando de vez o show com Fabio Lione pedindo para que todo mundo participasse, o que fizemos instantaneamente, seja cantando, batendo palmas ou com os incessantes gritos de "hey... hey..." nos momentos certos.

 Consideravelmente aplaudidos, os músicos se reúnem no palco para receberem o carinho dos fãs pela última e também tirar aquela foto tradicional com o público de fundo, antes de se despedirem de Limeira ao som de fundo de ØMNI - Infinite Nothing sabedores que deixaram todos satisfeitos com sua apresentação. Mesmo com um show fabuloso, que adoramos e agitamos do começo ao fim, que foi muito emocionante e que contou com duas admiráveis horas, não tem jeito... bastou acabar para querermos mais... que outras músicas fossem tocadas, enfim, a verdade é que fomos embora realmente alegres por (re)ver o Angra.

    Que venham mais 30 anos de Angra e pensa que a festa acabou? Não... ainda será gravado ( e provavelmente lançado ) um DVD Acústico neste ano e o décimo álbum de estúdio Cyrcles Of Pain - conforme falei no começo - já está pronto para sair também... Então, caro leitor(a) do Rock On Stage não tardará para que o Angra esteja nos palcos, visitando Limeira novamente e aí estaremos presentes novamente em seu show.

Texto e fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à equipe da Circle Of Infinity Produções
pela oportunidade, atenção e credenciamento
Agosto/2023

Setlist do Angra

1 - Newborn Me
2 - Nothing To Say
3 - Angels Cry
4 - Travelers Of Time
5 - Lisbon
6 - Ego Painted Grey
7 - Late Redemption
8 - Rebirth
9 - Winds Of Destination
10 - Lease Of Life
11 - Black Widow's Web

Acoustic
12 - Reaching Horizons
13 - Make Believe

Set 2
14 - Waiting Silence
15 - Bleeding Heart
16 - Magic Mirror

Encore:
17 - Unfinished Allegro
18 - Carry On (Without last bridge and chorus)
19 - Nova Era
outro ØMNI - Infinite Nothing