Angra - Ømni
11 Faixas - Shinigami Records - 2018

    Mesmo sendo uma das maiores e mais bem sucedidas bandas de Heavy Metal brasileiras e já tendo lançado álbuns históricos como o são os casos de Angels Cry ( 1993 ), Holy Land ( 1996 ), Rebirth ( 2000 ) e Temple Of Shadows ( 2004 ), a vida do Angra não foi o que podemos chamar de simples. Ao longo dos seus 26 anos de carreira, a banda liderada por Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro enfrentou várias mudanças em sua formação, algumas muito significativas como a saída de Andre Matos, Ricardo Conferssori e Luis Mariutti em 2000 encerrando assim a primeira fase ou mesmo quando Edu Falaschi deixou o posto de vocalista. Talvez a mudança que mais chamou a atenção, ao menos nos últimos anos foi a saída de um dos dois mentores, pois, Kiko Loureiro foi convocado por David Ellefson e aprovado por Dave Mustaine para o relevante posto de guitarrista do Megadeth, simplesmente um dos pilares fundamentais do Thrash Metal mundial.

    O que poderia se tornar um problema ( a saída de Kiko Loureiro ) para o guitarrista Rafael Bittencourt foi motivo para a criação de mais um ambicioso projeto, cujo nome é Ømni, sucessor do ótimo Secret Garden, que marca o nono álbum de estúdio e o primeiro sem o velho parceiro na guitarra, ou nem tanto, já que ele participa de uma de suas faixas. Além de Rafael Bittencourt estão nesta formação do Angra, o baixista Felipe Andreoli, o vocalista Fabio Lione ( desde 2013 e em seu segundo disco de estúdio com a banda ), o exímio baterista Bruno Valverde e o guitarrista Marcelo Barbosa ( do Almah, que entrou no lugar de Kiko Loureiro ). E assim como alguns dos outros álbuns do Angra, Ømni ( do latim tudo ) é conceitual e é sobre uma inteligência artificial que conecta o passado, o futuro e o presente mudando a percepção e a cognição humana nos apresentando viajantes do tempo, guerreiros, homens das cavernas e outros personagens nesta complexa história originada da mente de Rafael Bittencourt, que conectou este a todos os outros discos da banda.

    A capa da obra é um desenho feito à mão de Daniel Martin Diaz, um artista americano, que no desenho misturou conceitos científicos e filosóficos como anatomia, ciência da computação, matemática, cosmologia, geometria sagrada, simbolismo e esoterismo, que podem serem observados no encarte do álbum, sendo tudo baseado na ideia de Rafael Bittencourt para Ømni. E quem finalizou o conceito gráfico foi o renomado Gustavo Sazes. Para os processos de gravação, produção e mixagem, o Angra escolheu o sueco Jens Bogren ( Moonspell, Sepultura, Haken, Opeth, entre outros ) e o seu Fascination Street Studios garantindo uma sonoridade ímpar ao cd. A masterização é assinada por Tony Lindgren, que soube como aglutinar o Heavy Metal com os momentos de Rock Progressivo, Thrash Metal, Power Metal, Djent e Música Latina e Brasileira espalhados nas onze faixas do cd. Dito tudo isto, está curioso(a) para saber mais detalhes das faixas? Vou começar a contar mais sobre eles a partir de agora.

    Na abertura temos linhas clássicas, que trazem os velozes solos de Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa nas guitarras com a acelerada Light Of Transcendence em que Fabio Lione canta com seu conhecido e sempre esperado carisma e muita potência, que somado aos toques de baixo e de bateria levam este Power Metal ser possuidor de um estilo bastante pesado e empolgante. Atenção também aos trechos orquestrados comandados por Francesco Ferrini do Fleshgod Apocalypse nesta primeira música. Depois, o quinteto envia os riffs fortes e envolventes de Travellers Of Time, onde a percussão de Dedé Reis ocupa um destaque no início e posteriormente, o estilo robusto do Angra se evidencia em uma ótima melodia com atuação marcante de Felipe Andreoli no baixo e várias das características conhecidas da banda, que apreciamos desde sempre, como os solos melodiosos de guitarras e as incursões de Rafael Bittencourt nos vocais junto dividindo algumas partes com Fabio Lione garantindo assim, mais eletricidade à música.

    Black Window's Web, cuja letra é sobre o lado perigoso da Internet, não é uma das melhoras apenas por unir as cantoras Sandy e Alissa White-Gluz ( do Arch Enemy ) a Fabio Lione, pois, os vocais suaves da primeira e os guturais da segunda recheando os melódicos do terceiro estão ligados a uma música cheia de uma linhagem moderna, que não foge do Power Metal do Angra, mas confere uma ousadia muito grande e também trechos mais sujos, especialmente, nas pancadas certeiras de Bruno Valverde em sua bateria. E lógico que a Alissa White-Gluz e os membros do Angra estão soberbos, mas, a cantora Sandy se mostrou uma revelação em sua primeira passagem pelo Heavy Metal e capaz de cantar em qualquer banda do estilo.

    A quarta é a contagiante Insania, que traz ares épicos a Ømni e podemos sentira dedicação de Fabio Lione nos trechos mais viajantes em que o baixista Felipe Andreoli e o baterista Bruno Valverde fundem-se suas atuações perfeitamente com a melodia da composição, que é deveras positiva, aliás se você viajar com ela... poderá perceber ritmos brasileiros incrustados ao passar de seus minutos nesta que nasceu para ser executada ao vivo.

    Com os vocais de Rafael Bittencourt e aos dedilhados no violão levando muita emoção, a balada The Bottom Of My Soul recebe pouco depois seu peso conferindo um formato mais Progressivo e bastante saboroso de se ouvir em que tenho que salientar os seus vigorosos solos de guitarras, que deixam esta música muito mais emblemática e comprovam como Marcelo Barbosa está à vontade no Angra e também com o seu parceiro das seis cordas. Para a rápida, pesada e puramente melódica War Horns, que conta com Kiko Loureiro solando sua guitarra e relembrando de seus longos anos no Angra, o quinteto nos surpreende com uma faixa que sofre modificações inesperadas e que o músico sola com brilhantismo à maneira que é exigido pelo ritmo da canção liberando assim Fabio Lione para liberar seus poderosos agudos.   

    Caveman mistura seu princípio Djent, Progressivo e ritmos brasileiros com letras em português e com os vocais de Fabio Lione na mais diferente canção de Ømni, pois, quando o italiano canta sua base é voltada ao Power Metal mais tradicional, porém, depois eles mergulham em um trecho viajante que atravessa momentos encorpados nos solos de guitarras. Esta Caveman deixa claro que o Angra vai frequentar muitos caminhos em seu Heavy Metal sem render-se a nenhum e que a banda continuará evoluindo bastante, além de se desafiar sempre.

 

 

    Em Magic Mirror notamos vocais em coro, linhas melódicas fortes, viagens e uma diversidade instrumental muito cativante sem diminuir o peso em seus minutos, que culminam em uma sequencia de solos de guitarras, que crescem e se amplificam, porém, só não são mais impactantes que os toques de piano, que aparecerem de surpresa na música feitos pelo convidado Alessio Lucatti ( do Vision Divine ), cujos momentos finais se interligam na esbelta Always More, uma balada saborosa de se ouvir que recomendo fechar os olhos para apreciá-la mais á fundo, pois, Fabio Lione aumenta o volume de sua voz de acordo com a condução dos demais em uma harmonia sensacional nos puxando para vibrar com ele.

    A viagem prossegue em Ømni - Silence Inside, que chega com dedilhados no violão um tanto que flamencos em um ambiente de muita progressividade, que dá lugar a um enorme peso extraído principalmente dos solos de guitarras em uma abertura instrumental para Fabio Lione cantar de uma forma fascinante. Em suma, temos aqui um Prog Metal de altíssima qualidade com evoluções surpreendentes em que merecem uma audição mais apurada. A instrumental Ømni - Infinite Nothing conta com uma presença considerável dos arranjos orquestrados feitos por Francesco Ferrini e se assemelham ao final de um filme que passa na mente do personagem do cd, além de ser dotada de uma singular beleza, que devemos ouvir de olhos fechados para admirar satisfatoriamente cada momento.

    Mais uma vez, o Angra enfrenta com sabedoria as suas adversidades e dispara um álbum que deixa claro que a banda terá muitos mais plenos anos de vida, que sabe como juntar novos estilos ao seu, e isso, sem perder a identidade e como agradar os antigos fãs, além de conquistar novos com seu mais pesado álbum de estúdio, que certamente ocupará o seu lugar entre os cinco melhores da carreira da banda, pois, Ømni é muito melhor do que já foi dito por aí e não é por acaso que sua tour mundial já conta com mais de 100 datas só em 2018. Excelente e completamente certeira a aposta da Shinigami Records em lançá-lo no país.
Nota: 9,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Setembro/2018

Site: http://angra.net/
Facebook: https://www.facebook.com/AngraOfficialPage
Instagram: https://www.instagram.com/AngraOfficial/ 
Twitter: https://twitter.com/AngraOfficial
 

 

Voltar para Resenhas