Moonspell - Latin American Fullmoon Tour 2023
Abertura: Weight Of Emptiness e Deep Memories
Estúdio Mirage Eventos em Limeira/SP
Domingo, 09 de Abril de 2023

Páscoa Heavy Metal com três excelentes shows

    Domingo de Páscoa, dia que normalmente passamos com a família, só colocando a conversa em dia, comendo, bebendo e em tese nada de Rock e Heavy Metal. Bem, isso foi o que a maioria das pessoas que conhecemos fizeram, entretanto, porque para nós foi: "coelhinho da Páscoa, o que trazes para mim? um... show... dois.... shows... três baita shows de Metal assim..."

    Sim, nós que estivemos presentes no Estúdio Mirage Eventos em Limeira/SP até fizemos isso em parte do domingo, porém, o final do dia foi dedicado ao Heavy Metal e desta maneira conferimos o retorno dos portugueses do Moonspell na cidade, a primeira passagem dos chilenos do Weigth Of Emptiness e a estreia dos brasileiros do Deep Memories, que realizaram apresentações performáticas, pesadas, técnicas e que deixaram cada um dos presentes bastante felizes. Vamos aos detalhes.

Deep Memories

    Inicialmente, o Deep Memories era uma One Man Band capitaneada pelo ex-Desdominus Douglas Martins e que havia lançado os álbuns Rebuilting The Future em 2019 ( leia resenha ) e o Why Do We Suffer? em 2022 e que planejava sua estreia nos palcos para o mês de julho, porém, uma oportunidade como esta de abrir para o Moonspell não podia ser recusada.

    Desta forma, Douglas Martins transformou o Deep Memories em uma banda completa contando com ele nos vocais e guitarra, Fernando Alves no baixo e vocal; Rodrigo Pereira na guitarra e Ney Paulino ( Desdominus ) na bateria, ou seja, soube escolher muito bem os músicos.

    Naturalmente um pouco nervosos, afinal, não é uma tarefa simples apresentar as músicas técnicas e complexas do Deep Memories ao vivo, o quarteto se postou no palco do Estúdio Mirage Eventos alguns minutos posteriores do horário marcado ( precisamente às 19:12 ) e justamente no instante que havíamos acabado de chegar na casa, que ao perceber que a banda já estava no palco fomos rapidamente para lá assistir a execução de Enslaved By Reciprocity Obligation, canção de abertura do novo Why Do We Suffer?, que trouxe o clima Death e Doom Metal da banda até nós em sua introdução e também com o seu ritmo arrastado, com sua morbidez e com toda a habilidade do quarteto, já conquistando logo de cara quem ainda não conhecia a banda, como pudemos perceber através dos longos e melodiosos solos de guitarras feitos por Douglas Martins e Rodrigo Pereira entre os vocais rasgados do primeiro.

    Após os aplausos, Douglas Martins nos agradece rapidamente pela presença logo no início dos shows e toca a There Is No End do primeiro álbum Rebuilting The Future, onde pudemos notar a agressividade dos vocais reproduzida fielmente pelo vocalista, que aproximaram esta composição à um Black Metal.

    Ao seu término, Douglas Martins sorri ao ver que o show estava agradando e desta forma quebrando aquela tensão inicial - que é normal para um primeiro show, mesmo para músicos experientes como eles - ele continua com Please, Do Not Close The Coffin!, outra do mais recente trabalho que é deveras atmosférica e - porque não dizer - viajante com seus longos solos de guitarras, surpreendente com seus vocais mais limpos e certeira com sua linhagem Doom.

    Antes de tocarem a próxima, o vocalista vê a plateia de certa forma em silêncio e nos questionou: "ou vocês não estão gostando de nada ou estão gostando de tudo!" conclamando assim para que socássemos o ar e gritássemos, mas, enfatizo, a verdade é que ficamos atônitos com a marcante apresentação do Deep Memories, que continuou com a Suffocating Grayish Darkness, onde ele segurando sua BC Rich cantou e tocou com 'facilidade' a composição do Rebuilting The Future.

    Mais uma vez, Douglas Martins bastante humilde agradece à oportunidade, ao Edson e à nós explanando sua alegria pela realização do show e anuncia a tétrica When The Time For My Last Breath Comes, onde os vocais rasgados e os solos de guitarras imperaram excetuando-se apenas alguns poucos vocais limpos, que demonstraram que o Deep Memories conseguiu entregar o que fez no estúdio neste show ao vivo nos fazendo encher a boca ao dizer: "sim... esta banda é brasileira e está no nível de muitas estrangeiras".

    E além do show impecável do Deep Memories, logo neste começo de matéria tenho que enaltecer a Circle Of Infinity Produções, que desta vez, além do costumeiro som cristalino, nos brindou também com uma iluminação 'Classe A' também para a banda de abertura, fato que sabemos que não é um costume de acontecer por aí. 

Set List do Deep Memories

1 - Enslaved By Reciprocity Obligation
2 - There Is No End
3 - Please, Do Not Close The Coffin!
4 - Suffocating Grayish Darkness
5 - When The Time For My Last Breath Comes

Weight Of Emptiness

    Embora saiba que os chilenos são grandes amantes do Heavy Metal e que nos shows ao vivo agitem vigorosamente ( como pode ser comprovado ao assistir o DVD En Vivo do Iron Maiden ), eu, particularmente, ainda não havia assistido ao show de nenhuma banda do país andino e ao assistir previamente alguns clipes do Weight Of Emptiness percebi que os caras são consideravelmente afiados dentro de seu estilo, que transita pelo Death Metal, Progressivo, Doom Metal e o Black Metal com muita precisão.

    A banda é atualmente formada por Alejandro Ruiz nos vocais, Juan Acevedo e Alejandro Bravo nas guitarras, Mario Urra no baixo e Mauricio Basso na bateria, sendo que estiveram no Brasil pela segunda vez e pela primeira em Limeira, desta vez divulgando o terceiro e recente álbum de estúdio intitulado como Withered Paradogma, que saiu no dia 7 de março pela Sliptrick Records.

    E como é o hábito dos shows em Limeira, a organização rapidamente preparou o palco para a apresentação do Weight Of Emptiness, que começou às 19:55 ( respeitando os horários previstos anteriormente ) com o vocalista Alejandro Ruiz com um capuz cobrindo o rosto e com a parte de cima de sua cabeça pintada de preto, porém, só fomos perceber isso instantes depois.

    Com todos posicionados, o set teatral do Weight Of Emptiness começou com a sinistra e bastante pesada Mütrümtum ( The Calling ) do novo álbum Withered Paradogma com o vocalista atuando como um pregador entre seus movimentos com as mãos, enquanto que os demais disparavam um Death Black Metal ardente, que resultou em gritos e aplausos dos presentes.

    A segunda foi a Defrosting, que também pertence ao disco novo e é tão densa e robusta quanto a primeira, porém, apresenta a incursão de momentos melodiosos e lentos aproximando a composição à um Doom Metal, que foram muito bem recebidos por todos nós, que ainda não conhecíamos tanto o som dos chilenos.

    Nas primeiras palavras trocadas com o público, Alejandro Ruiz se mostrou contente por estar tocando para nós e anunciou com um grunhido a Chucao do Conquering The Deep Cyrcle de 2019, o segundo álbum, onde sua movimentação no palco passava a sensação de que ele estava possuído e enalteço os solos melodiosos feitos por Juan Acevedo e Alejandro Bravo em suas guitarras e também os seus vocais limpos.

    Uma breve nova conversa antecedeu Wolves, mais uma do Withered Paradogma, que veio toda encorpada para cima de nós e o que engrandeceu as músicas do Weight Of Emptiness foram as suas modificações de andamento em que ficamos prestando atenção em cada solo de guitarra, cada digitação no baixo, cada virada na bateria, enfim, fatores que deixaram claro a competência desta banda.

    A música que emprestou seu título para a banda, a Weight Of Emptiness e que está presente no disco Anfractuous Moments For Redemption de 2017 foi anunciada pelo vocalista e depois de um início matador se tornou mais arrastada, ganhou palmas no momento que Alejandro Ruiz nos solicitou e teve muitos "hey...hey...hey..." nas viradas de bateria feitas por Mauricio Basso.

    Em seguida, o vocalista nos envia um 'salute' e junto aos demais executaram a Black State Council, outra do Withered Paradogma onde o lado Doom novamente ficou em evidência, mas, em alguma partes eles simplesmente dilaceraram com tudo, especialmente, na sequencia feito pelo baterista Mauricio Basso, nos urros de Alejandro Ruiz e no peso das guitarras. Sem parar martelaram com The Flame do Conquering The Deep Cyrcle que ganhou palmas e "hey... hey... hey..." em seu andamento sombrio e finalizam este magnífico show em Limeira com a pedrada Unbreakable do Anfractuous Moments For Redemption.

    Foram praticamente quarenta minutos disponíveis ao Weight Of Emptiness, porém, serviram para que novos fãs fossem conquistados pelos chilenos, que souberam escolher músicas de seus três álbuns de estúdio e tocá-las com todo o ímpeto que elas solicitam nesta excelente estreia da banda em Limeira.

Set List do Weight Of Empitness

1 - Mütrümtum ( The Calling )
2 - Defrosting
3 - Chucao
4 - Wolves
5 - Weight Of Emptiness
6 - Black State Council
7 - The Flame
8 - Unbreakable

Moonspell

    Na última vez que o Moonspell tocaria em Limeira/SP, há alguns anos atrás antes da pandemia, o show na cidade e toda a turnê sul-americana acabaram sendo cancelados. Desde aquela época já desejava ver a mais importante banda de Heavy Metal de Portugal ( que já esteve no Rock In Rio de Lisboa no Dia do Metal ) e que nesta ocasião aproveitou para comemorar os 30 anos de atividades com a Latin American Fullmoon Tour 2023, o que nos deu a garantia de um show onde seriam relembradas de músicas de toda a sua já grande história prestada ao Heavy Metal.

    Pouco depois das 21hs, e mais precisamente após a execução de Fear Of The Dark do Iron Maiden nas caixas de som do Estúdio Mirage Eventos foi que o Moonspell iniciaria o seu show, que começou com a soturna The Greater Good do mais recente álbum de estúdio da banda, o Hermitage de 2021, que trouxe Fernando Ribeiro nos vocais, Ricardo Amorim na guitarra, Pedro Paixão Telhada nos teclados e na guitarra, Aires Pereira no baixo e Hugo Ribeiro na bateria. The Greater Good exibiu uma veia relativamente lenta e voltada ao Gothic Metal, porém, que recebeu bastante peso em seu decorrer já deixando todos bastante entusiasmados.

    No término desta, o vocalista agradeceu rapidamente e já emendou a Extinct, título do décimo álbum da banda de 2015, que garantiu muitos "Hey... Hey... Hey..." dos fãs, além de socos no ar e também inclusive alguns deles cantando seus versos, ou seja, a galera participando com vontade do show, o que ajudou a empolgar ainda mais os portugueses.

    Vale mencionar como curiosidade, que dois destes presentes eram um casal que veio do Mato Grosso do Sul para Limeira somente para conferirem o Moonspell e ganharam de brinde o Weight Of Emptiness e o Deep Memories.

    Fernando Ribeiro, que se movimentara muito bem nas duas primeiras músicas comandando com habilidade a euforia dos fãs bradou à plenos pulmões um agradecimento e após os vários gritos de "Moonspell... Moonspell..." por parte dos fãs, ele informou que a 'máquina do tempo' da banda recuaria até ao ano de 1996 com Opium, ano que o segundo disco Irreligious foi lançado e pela vibração dos fãs deu para perceber que esta composição de levada Gothic Metal era muito esperada. Aliás, a iluminação que mencionei anteriormente que já estava excelente, agora estava fabulosa com as luzes basicamente interagindo com a banda, que se mostrou bastante entrosada.

    Entre os muitos gritos dos fãs e os "Heeeey... Heeeey..." notavelmente altos, hora da cadenciada e agressiva Night Eternal, que intitula o oitavo registro dos portugueses e que saiu em 2008. Nossa reação ao sentir esta música foi de socar o ar, balançar o pescoço e entre isso olhar os solos do guitarrista Ricardo Amorim e a condução de Fernando Ribeiro da plateia, pois, ele interpretou as músicas de uma maneira percebemos a garra aplicada em cada uma delas.

    Com o tecladista Pedro Paixão Telhada empunhando uma guitarra e vindo mais à frente do palco, o Moonspell tocou a Finisterra do álbum Memorial de 2006, onde além dos vocais praticamente guturais de Fernando Ribeiro enalteço também a força imposta por Hugo Ribeiro em sua bateria ( esmagando seu kit ), que contagiou a todos em uma nova sessão de vários "Hey... Hey..." e de punhos cerrados no ar.

    Muito interessante foi que o Moonspell aproveitou cada instante do show e sem pestanejar ligou a anterior a In and Above Men, esta representando o disco The Antidote de 2003 ( o sexto da carreira ), onde novamente observei a atuação bastante animada de Pedro Paixão Telhada na guitarra junto a Ricardo Amorim, sendo que o Moonspell tocou algumas das canções mais sólidas da carreira.

    Entretanto, não posso esquecer de citar o solo de bateria feito por Hugo Ribeiro nos prolongamentos da música, que foram responsáveis por uma adrenalina extra no show durante o mergulho gótico que percebi em sua sonoridade até o ponto em eles ampliaram o seu andamento em um nuance Progressivo embrutecido em um dos melhores momentos da apresentação do quinteto em Limeira.

    Na sequência foi a vez de Hugo Ribeiro se destacar na percussão logo nas primeiras notas de From Lowering Skies, outra do The Antidote, que foi vocalizada com destreza por Fernando Ribeiro, que nos brindou com ares bastante góticos e até um tanto introspectivos, mas, que mantiveram o pique do show sempre lá no alto, não permitindo que nossos olhos não se desgrudassem do palco.

    Retornando ao álbum Extinct tivemos a relativamente Gótica Breathe ( Until We Are No More ) com seus excelentes solos de guitarras e seus vocais por vezes suaves e por outras agressivos, além de suas tonalidades Progressivas que causaram muita alegria na plateia.

    Tão contente quanto nós, Fernando Ribeiro sem delongas após um breve agradecimento pela recepção obtida viajou com os demais até ao álbum Darkness and Hope de 2001 através da gótica, arrastada e melancólica Nocturna, que nos enfeitiçou e levou a berrarmos o nome da banda com vontade.

    Do robusto Night Eternal, o quinteto buscou a revoltada Scorpion Flower, onde cada pancada dada nos pratos de Hugo Ribeiro era sentida em nosso peito e procurávamos extravasar essa eletricidade socando o ar e novamente sacudindo o pescoço. Em Nome do Medo - cuja letra é português - entrou em cena garantindo uma intensa participação da plateia nesta fortificada canção do Alpha Noir/Omega White de 2012, o nono disco do Moonspell. Também em português tivemos a Todos os Santos do disco 1755, o penúltimo de estúdio e que o público brasileiro em especial gostou muito deste cd explicando assim, porque a maioria cantou e aplaudiu sua execução efusivamente.

 

    Fernando Ribeiro declarou que gostou muito de estar em Limeira outra vez e desta forma anunciou a horripilante e mais gótica Vampiria, composição de linhas mais fúnebres e viajantes pertencentes ao primeiro álbum da banda, o Wolfheart de 1995, cujo andamento foi efetivamente marcante. Com o álbum ainda Wolfheart em pauta tivemos a selvagem Alma Mater, com o baterista Hugo Ribeiro comandando a potência do show em seu kit e o vocalista Fernando Ribeiro conclamando os "ooooooooo" até soltar seus guturais.

    Aos gritos de Moonspell quase incessantes, o vocalista comenta que a próxima música é sobre a história de Portugal e a cadenciada, obscura e lamuriante Full Moon Madness do Irreligious literalmente veio para cima como um rolo compressor sem piedade e que teve um longo solo de guitarra, onde Fernando Ribeiro bateu forte nos pratos da bateria de Hugo Ribeiro e excetuo apenas os trechos em que os "Ooooooooo" e os "hey... hey... hey..." um tanto mais calmos, que foram pedidos pelo vocalista foram prontamente atendidos finalizando assim a primeira parte do show.

    A plateia queria mais e entre muitos gritos de Moonspell, os portugueses retornaram - sabedores que realizaram uma admirável apresentação em Limeira - para tocarem um trecho de sua versão arrastadona para Lanterna dos Afogados ( música dos Paralamas do Sucesso que eles adoram e que saiu no disco 1755 ).

    Por fim, a banda se reúne para a tradicional foto diante dos fãs sendo bastante aplaudida e se despediu de nós com a certeza de que entregou um espetáculo onde 'passou à limpo' seus trinta anos de história bastante à vontade em pouco mais de uma hora e meia com músicas de 10 de seus 12 discos da carreira nos deixando plenamente satisfeitos.

Texto e fotos: Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à equipe da Circle Of Infinity Produções
pela oportunidade, atenção e credenciamento
Abril/2023

Set List do Moonspell

1 - The Greater Good
2 - Extinct
3 - Opium
4 - Night Eternal
5 - Finisterra
6 - In and Above Men
7 - From Lowering Skies
8 - Breathe ( Until We Are No More )
9 - Nocturna
10 - Scorpion Flower
11 - Em Nome do Medo
12 - Todos os Santos
13 - Vampiria
14 - Alma Mater

Bis:
15 - Full Moon Madness
16 - Lanterna dos Afogados ( trecho )

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