Enslaved - Utgard
9 Faixas - Shinigami Records/Nuclear Blast - 2020

    A horda norueguesa de Viking/Black Metal da cidade de Haugensund que é conhecida mundialmente como Enslaved e que desde 1991 está enviando seus petardos para os reles mortais deste planeta chega com Utgard ao seu décimo quinto álbum de estúdio.

    Desta vez Ivar Bjørnson ( guitarra, violão, sintetizador, teclados, sequenciador e FX ), Grutle Kjellson ( vocais, baixo e sintetizador ), Iver Sandøy ( vocais, bateria, percussão e FX ), Håkon Vinje ( teclados, piano e vocais ) e Ice Dale ( guitarra e violão ) prepararam Utgard no Duper And Solslottet Studios Conclave & Earshot Personal Sound em Bergen, no Overlook Hotel em Auklandshawn e no Grand Hotell Stord, todos localizados na Noruega no final de 2019, sendo a banda responsável pela produção do cd.

    A mixagem é do renomado Jens Bogren ( Opeth, Sepultura, Angra, KreatorDark Tranquility, Haken e tantos outros ) e a masterização de Tony Lindgren e ambas realizadas no Fascination Street Studios em Örebro na Suécia em dezembro de 2019. Na capa toda encinzentada temos uma paisagem nórdica horripilante, alguns corvos ante a um castelo sinistro ao fundo exibidos no desenho de Trulis Espedal e a presença brasileira está no layout feito por Marcelo Vasco.

    Sobre a temática contida nas letras do disco, o vocalista Grutle Kjellson nos conta: "Utgard pode ser inúmeras coisas. Uma imagem, uma metáfora, uma localização esotérica. Na mitologia nórdica, a conhecemos como uma paisagem onde vivem os gigantes, onde os deuses de Asgard não tem nenhum controle. A nível psicológico, pode representar as esferas do sono, sonhos ou sonhos lúcidos; as fronteiras externas da sua própria consciência e o que está além delas no subconsciente. Utgard representa algo difícil de dominar completamente e até talvez impossível. Esse algo é perigoso, caótico, incontrolável. No entanto, há algo encantador em um lugar como este. É onde habitam a loucura, a criatividade, o humor e o caos".

     Na abertura que acontece com Fires In The Dark temos cânticos em norueguês em coro e dedilhados que trazem sua atmosfera puramente Viking ( antes de uma batalha ) através de linhas viajantes até que seu ritmo cadenciado e de vocais devidamente enfurecidos seja exposto para nós em uma canção com diversas modificações de andamento e deveras intrigante, que é dotada de vocais rasgados e limpos contracenando harmoniosamente em uma envolvente melodia robusta que percorre o Black Metal e o Progressivo. Jettegryta, que quer dizer 'Cauldron The Giants' ( ou o caldeirão de gigantes ) chega densa e carregada exalando uma imensa fúria em seus vocais ( ora rasgados... ora urrados ), mas, assim como a anterior, o Enslaved agregou várias sábias alterações em seu ritmo que nos deixa acertadamente atentos a cada um de seus minutos, que mergulham em um excelente trecho progressivo antes de seu formato urrado, violento e cadenciado a encerrarem.

    Para Sequence, os noruegueses mostram uma faixa em que seus vocais rasgados de Black Metal dividem os holofotes com os limpos em uma cativante música com linhas de Rock'n'Roll, que após os solos de guitarra se torna, inesperadamente, viajante e calma com vocais serenos, ou seja, uma grata e prazerosa surpresa climatizada com perfeição pelo Enslaved. Porém, antes do final, os vocais rasgados presentes em Sequence retornam em seus últimos versos junto de sua linhagem extrema. De um andamento mais rápido e bastante envolvente, Homebound é a quarta de Utgard e salvo em seus vocais agressivos, a melodia instrumental é desafiadoramente tranquila com direito a uma incursão marcante nos seus vocais limpos e também nos seus solos de guitarras na cortesia de Ice Dale e Ivar Bjørnson, que estão muito bem amparados pelo produtivo baterista Iver Sandøy. E tudo isso chegará à uma imponente linha e complexa progressiva antes do fim.

    Também com versos em norueguês, a funesta faixa Útgardr é uma narração de aromas viajantes ( tal qual um filme de horror ), que faz a preparação para Urjotun, que começa com um uso bastante evidente de sintetizadores e sequenciadores produzindo um clima de anos 80, cujos vocais distantes lhe conferem um estilo sombrio e que é confirmado quando os urros rasgados eclodem e o mais interessante é que em meio a tudo isso pode-se notar o impactante trabalho instrumental feito pelo Enslaved, especialmente, nos toques do baterista Iver Sandøy.   

    Para a sétima canção do cd, a Flight Of Throught And Memory, o quinteto nos coloca diante de um Black Metal com alternações entre trechos limpos com agressivos, onde a predominância destes últimos se faz evidente com um andamento veloz e executado com requinte pela banda, sem que possa enaltecer um dos músicos em específico, aliás este ritmo frenético novamente nos surpreende no final com sua parte Progressiva e com narrações em norueguês resultando em um notável contraste.

    A encorpada Storms Of Utgard caminha pelo Black Metal de vocais rasgados com interferências viajantes em uma composição deveras criativa onde a competência instrumental dos noruegueses está simplesmente brilhante com as intervenções de cada um dos músicos de forma a produzir uma audição satisfatória desta canção. A última de Utgard é a Distant Seasons, que começa serena com vocais limpos e até emocionantes, mas claro, o Enslaved aplica eficientemente um andamento marcante, que une-se perfeitamente à sua melodia produzindo um momento de relaxamento e reflexão.

    Para finalizar esta resenha posso cravar que o Enslaved se superou com este brilhante álbum Utgard  ( o sucessor de E - leia resenha ) e disponibilizou para todos os seus fãs um dos melhores discos de sua carreira com nove composições que transcendem o que costumeiramente poderíamos esperar em um álbum de Viking/Black Metal e este lançamento está ao seu alcance graças à parceria da Shinigami Records com a Nuclear Blast no Brasil de forma que você caro leitor(a) do Rock On Stage poderá também liberar sua mente e chegar a este lugar adorável e mágico mencionado pelo vocalista, porém, saiba que muitos perigos também habitam este local e aí que entra a dualidade ouvida no disco entre as suas partes extremas, as calmas e as progressivas, que lhe causarão uma enorme admiração em cada um de seus 44 minutos. Enfim, muito melhor que eu esperava.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Maio/2021

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