Enslaved - E
8 Faixas - Shinigami Records - 2017

    No já distante ano de 1991 teve origem na cidade de Bergen na Noruega, o quinteto Enslaved, que caminhou pelo cenário extremo desde então, sempre aliando o Black Metal com o Rock Progressivo dos anos 70 resultando em uma combinação muito interessante, como ficou claro nos álbuns Vertebrae ( 2008 ), Axioma Ehtica Odini ( 2010 ) e RIITIIR ( 2012 ). Quando lançaram em 2015 o disco In Times, o guitarrista Ivar  Bjørnson disse que ele representou o final de uma era e a porta de entrada para algo inteiramente novo. Completados 25 anos de carreira em 2016, o Enslaved compôs o disco E, que é o décimo quarto álbum de estúdio e o primeiro a contar com o novo tecladista Håkon Vinje ( substituindo Herbrand Larsen, ex-Seven Impale, banda que abriu shows do Enslaved e que se separou pouco depois ). Além dos dois citados, o line up é completado por Grutle Kjellson no vocal e baixo, Cato Bekkevold na bateria e Ice Dale na guitarra.

    E foi produzido e imaginado por Ivar Bjørnson, Grutre Kjellson e Iver Sandoy entre abril de 2016 a março de 2017 com gravações realizadas no Duper & Solslottet Studios, Conclave & Earshot, Personal Sound em Bergen e no Overlook Hotel em Auklandshamn na Noruega entre abril e maio de 2017. Os seus processos de mixagem contou com o fabuloso Jens Bogren ( Dimmu Borgir, Sepultura, Arch Enemy, Paradise Lost, Angra, Dark Tranquility, Dragonforce e muitos outros ) e de masterização com Tony Lindgren, ambos realizados no Fascination Street Studios em Örebro na Suécia. Na capa temos apenas a letra E estilizada a partir do logotipo do Enslaved baseada na ideia de Truls Espedal, e óbvio... da banda. E é definido por Ivar Bjørnson da seguinte forma: "visivelmente positivo. Fala muito de gratidão e aborda de forma construtiva muitas das coisas que escrevemos antes". Suas letras abordam o que é importante para a raça humana no olhar dos noruegueses em temas tais como: as uniões, as dualidades e a parceria com a natureza. Vamos aos seus detalhes.

    A letra E da capa do álbum não é uma simples letra e sim a runa ehwaz do alfabeto nórdico utilizado pelos povos escandinavos antes da chegada dos colonizadores cristãos e seu significado está relacionado com um conceito de simbiose, cooperação entre a humanidade, tal qual reflete a temática do cd.

    Esta  conexão com a natureza se estabelece logo nos primeiros instantes do cd com sons de um barco em um rio, pássaros cantando e uma voz praticamente tribal criando um ambiente pacífico e harmônico à maneira que os instrumentos aparecem caminhando para seu Black Metal Progressivo de vocais normais, rasgados e urrados para chegarmos definitivamente na primeira que é a Storm Son, onde a condução feita pelo Enslaved é instigante, pois, não tem como prever o que vai acontecer em suas formosas e pesadas viagens em que o quinteto funciona como uma perfeita engrenagem, que é precisa a cada trecho dos quase onze minutos da canção, que ouvindo com atenção vamos notar também alguns mergulhos mais voltados ao Doom Metal. Em suma, uma viagem insanamente pesada até aterrorizante em algumas partes repleta de quebras de ritmo.

    Na segunda sentimos uma lembrança do Black Metal mais tradicional em um andamento mais acelerado com destaque aos robustos toques feitos pelo baixista Grutle Kjellson e também nas intervenções mais viajantes, cujas vocalizações alternam pontos rasgados com outros que estão mais calmos. Os belos dedilhados de Ivar Bjørnson no princípio de Sacred Horse trazem a mais agressiva composição desta trinca inicial, pois, seus vocais exalam uma fúria a cada evolução da música, onde ressalto os solos de teclados feitos por Håkon Vinje, que possuem um pé fincado no estilo que Jon Lord fazia no Deep Purple ( repare e me fale... ) e o trecho em que a percussão tocada por Cato Bekkevold se faz presente em linhas épicas devido aos coros inclusos. Lógico, que tudo isso está entremeado com os vocais furiosos de Grutle Kjellson.

    Para Axis Of The Worlds, o Enslaved seguiu para o Black Metal mais raivoso com partes onde este ímpeto é quebrado de uma forma envolvente em que enalteço suas ligações com os anos 70 entre vocalizações em coro suaves dos demais com os amargos Grutle Kjellson, que se elevam a uma viagem progressiva de ares pagãos, o que é deveras impensável e intrigante para seus seguidores(as) por conta de suas linhas diversificadas que expressam uma dualidade nos vocais urrados e nos coros limpos.

    Claramente detentora de uma grande imersividade, a quinta de E é a Fearthers Of Eolh em que somos expostos a um contagiante ritmo que se intensifica e domina a composição através de vocais limpos de Håkon Vinje em partes para se fechar os olhos até que em lugares determinados exploda um peso consideravelmente chamativo nesta faixa que conta com a participação de Daniel Màge na flauta. E o bacana estas variações se repetem inesperadamente por mais vezes. De um começo aparentemente leve, os noruegueses nos mostram a densa e furiosa Hiindsiight, que modifica seu andamento pacífico com partes extremas em que Grutle Kjellson recebe os convidados Einar Kvitrafn nos vocais e Kjetil Møster no saxofone conferindo um ambiente diferenciado, único e apocalíptico a esta canção.

    A versão brasileira de E disponibilizada pela Shinigami Records conta com dois bônus, sendo o primeiro a introspectiva Djupet, que cresce até conseguir assustar e torna-se um mortífero Black Metal de vocais urrados em um andamento executado com habilidade pela banda em partes arrastadas e trazendo uma atmosfera direcionada ao Doom Metal. O segundo bônus e última do cd é o cover para What Else Is Here do Röyksopp, que apresenta linhas direcionadas ao Gothic Metal e ficou um ótimo complemento ao álbum.

    Realmente, E trata-se de um disco desafiador, extemporâneo, enigmático, imponderável ao unir - teoricamente - mundos tão díspares com tamanho primor como são os casos do Black Metal e do Rock Progressivo comprovando que o Enslaved vai nos capturar por muito tempo sempre em suas criativas músicas, goste ou não de sonoridades mais extremas. Fãs de nomes como Opeth, ... e quem acompanha o Enslaved vão apreciar bastante este álbum.
Nota: 9,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Novembro/2018

 

 

 

 

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