Makinária Rock - Mundo Imundo
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Faixas - Shinigami Records - 2018

    Quem, senão o Rock'n'Roll deve possuir um jeito contestador e ao mesmo tempo bem humorado, para não dizer sarcástico de ser e apresentar isso em suas músicas, não é mesmo? Ainda bem que no Brasil contamos com inúmeros nomes que nos representam neste quesito e destaco entre eles: Camisa de Vênus, Velhas Virgens, Baranga, Made In Brazil, Saída de Emergência e ... ufa!!! a lista é longa!!! Somam-se à essa galera o Makinária Rock, banda paulista da cidade de São Paulo/SP, que desde 2008 chama a atenção dos fãs positivamente com seu Rock'n'Roll direto, ácido e sem 'mimimi'. Em seus pouco mais de 10 anos de existência, eles lançaram os álbuns Makinária Rock de 2010 ( leia resenha ), Cidade Rock de 2013 ( confira resenha ) e Ao Vivo da Cidade Rock de 2015, sendo este Mundo Imundo - que saiu em 2018 - o quarto álbum da banda e o terceiro de estúdio, cujas gravações aconteceram na Conspiração Records junto a Lau Andrade, que em parceria com a banda cuidou também da produção.

    A capa é do guitarrista Algusto Abade mostra os vários 'Brasis' que temos dentro do nosso Brasil, pois, ela retrata a glória obtida com o futebol ao longo das Copas do Mundo ( bons tempos, porque atualmente.. huummm!!! ) nossas belas mulheres na praia, nossa fauna e paisagens naturais, porém, por outro lado a violência, a ganância, miséria, corrupção, a deprimente classe política e os dependentes químicos. Entretanto, o maior problema é que a parte boa do Brasil está se deteriorando rapidamente e não parece que teremos uma solução imediata para melhorar, o que enfatiza a situação caótica que estamos vivendo atualmente.

    Ainda bem que o Makinária Rock, que é formado por Carlos Digger nos vocais, Algusto Abade na guitarra, Lucas Tomé no baixo e Alexandre Tomé na bateria estão aí para nos ajudar com um álbum da importância deste Mundo Imundo ( cujo nome foi escolhido em votação popular de seus fãs ) para nos mostrar esta triste realidade, pois, temas como estes que são abordados pelo quarteto não podem e não devem serem esquecidos ou mesmo jogados para debaixo do tapete. Tem que serem colocados na pauta do diária para ver se modifica o pensamento coletivo e desta maneira possamos melhorar nosso país.

    E o dedo na ferida chega firme e forte com a atual Não Me Representa, um Rock'n'Roll pesadão devidamente inflamável que começa com falas de noticiários e depois com verdades ditas por Carlos Digger ao cantar seus versos de forma contagiante com seu carismático timbre em um ritmo executado com perfeição por ele e os demais músicos em que destaco os solos do guitarrista Gustavo Abade, que estão muito bem embasados nos toques do baixista Lucas Tomé.

    Sem tempo para respirar, a sonzeira impactante presente neste Mundo Imundo continua com O Tempo Voa, um 'Rockão' emblemático e robusto, que captura o fã facilmente, seja nos seus vocais ou nos empolgantes toques feitos pelo baixista Lucas Tomé ou ainda nos solos de Algusto Abade em sua guitarra, que vão longe e mostram uma exuberância de primeira.

    Em Gata no Cio, os paulistas atacam com uma efetiva pegada Blues / Rock, que nos acerta em cheio diante de uma letra sobre um amor doentio, cujos versos ficarão na memória e que não posso deixar de salientar também o solo de bateria feito com muita competência por Alexandre Tomé conferindo mais velocidade ao final desta pedrada, que é das boas e das melhores do disco. Com a participação de Xande Saraiva do Baranga nos vocais junto a Carlos Digger, a eletrizante Eu Quero Rock retrata o porque da nossa paixão pelo Rock'n'Roll em uma letra flamejante e divertida, que cairá como um raio em nosso cérebro em que basta uma simples audição para sentir seu potencial e se tornar fã dela.

    Com um andamento cadenciado e que recebe mais peso em seu decorrer, a faixa título Mundo Imundo é o soco na cara que você poderia imaginar, com sua uma letra expondo nossos dirigentes inúteis e incompetentes, que só pensam em si próprios, além de outros problemas conhecidos, que estão todos exibidos através de uma cativante e criativa melodia repleta de solos de guitarras poderosos e que acertam em cheio ao serem tocados. A intensa Lemmy "Immortal" é uma vibrante homenagem ao saudoso ícone Lemmy Kilmister nos padrões 'motorheadianos' seja de velocidade ou intensidade, que já rendeu mais de 100 mil visualizações no Facebook da banda com seu videoclipe e enfim, não é para menos, pois sua pegada é cheia de adrenalina, está bastante encorpada a cada momento. Aliás, não tem como ouvir esta música e não ver o rosto de Lemmy Kilmister em nossa mente e prestar um tributo a tudo que ele nos deixou com o Motörhead.

     Para Eleição ou Gozação, o Makinária Rock preparou uma composição voltada ao Rock'n'Roll mais 'sujo', cuja letra é sobre os nossos gloriosos e costumeiros candidatos nas eleições que falam e prometem muitas coisas e na real após serem eleitos, não cumprem nada do que nos prometeram, nem básico do mínimo, e isto é exposto de uma forma bastante ácida a cada verso cantado e também na sua parte instrumental é simplesmente deliciosa de se ouvir, porém, saiba que eles não estão para brincadeiras e centram a importância de um processo eleitoral correto em que notamos a ironia nos vocais de Carlos Digger, mas também como a música te infecta em seu estilo, que contou com Renato Prata no baixo.

    Aos dedilhados mais calmos que trazem os vocais de Carlos Digger temos a participação da bela Juliana Kosso das Velhas Virgens na balada Eu Só Quero Paz, a mais lenta deste Mundo Imundo, porém, não menos marcante, pois, o crescimento de sua estrutura musical é consideravelmente admirável e o mais bacana é ver dois nomes que normalmente cantam canções rápidas atuando juntos e saindo-se muito bem. E em tempo, ouvidos atentos nos solos de guitarra e na atuação competente de Lucas Tomé no baixo e de Alexandre Tomé na bateria.

    A última do tracklist normal de Mundo Imundo é a Brasil, que exibe os contrastes que temos no país criticando principalmente a corrupção através Rock'n'Roll fortificado que será necessário uma audição mais atenta para exclamar: "que baita sonzeira!!!". Afinal, o Makinária Rock caprichou mesmo, vide a voltagem contida nos solos de Algusto Abade na guitarra ou ainda, olha eu elogiando novamente a cozinha da banda, mas é verdade, a dupla fez uma base perfeita no baixo e na bateria, cortesia de Lucas Tomé e Alexandré Tomé, respectivamente. Como bônus, o quarteto fez uma releitura de Cansado, que foi gravada originalmente em 2010 e fez parte do álbum de estreia da banda, que nos mostra como a música é relevante seja em sua letra ou em seu ritmo até hoje.

    Depois de ouvir um formidável álbum como este Mundo Imundo, só posso dizer: que venham mais 10... 20... 30... 40 anos de sucesso para o Makinária Rock, pois, precisamos de bandas assim no país, que façam seu Rock'n'Roll em português devidamente fortificado, certeiro, sem firulas e sem medo de abordar temas polêmicos escancarando a realidade e principalmente, como disse no começo deste texto... sem frescuras estabelecidas por esta atual geração 'mimimi' onde tudo ofende.
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Agosto/2019

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