Seu Juvenal - Rock Errado
10 Faixas - Sapólio Radio - 2015

    Nos dias atuais algumas bandas até estão lançando seus trabalhos também em vinil, além dos formatos digitais e o costumeiro cd, porém, com o Seu Juvenal a conversa foi diferente: o quarteto mineiro de Uberaba trouxe o álbum Rock Errado exclusivamente em vinil com toda a sua magia única, que somente quem viveu os tempos das bolachonas sabem do que estou falando.

    A origem do projeto remonta ao ano de 1997 com o nome de Donátilas Rosários! e por conta da estranheza do nome e os poucos convites para shows, eles modificaram para Seu Juvenal, o que em tese... ainda é esquisito. Pouco tempo depois, nestes quase vinte anos de estrada, o Seu Juvenal disponibilizou sua primeira demo com o título de Cyberjecas no Sertão da Farinha Podre em 1998, além dos álbuns Guitarra de Pau Seco de 2004 e o Caixa Preta de 2008.

    O line-up responsável por este Rock Errado e que se radicou em Ouro Preto/MG é o seguinte: Bruno Bastos nos vocais, Edson Zacca na guitarra e violão, Alexandre Tito no baixo e Renato Zacca na bateria, sendo que eles adoram enfatizar o fato que "fazem Rock do jeito errado para os padrões politicamente corretos", que de certa forma explicam o porque do título do seu novo trabalho, que foi gravado em apenas quatro dias no Lab Audio Passagem na cidade de Mariana/MG por Ronaldo Gino ( guitarrista do Virna Lisi ) e Edson Zacca, sendo que o primeiro assina a mixagem também.   

    Entretanto, algumas músicas foram gravadas no Estúdio Bituca em Barbacena/MG por Pitágoras Silveira e Guilherme Fagner e outras no Estúdio B por Fred Nobrega. A masterização é de César Santos e foi realizada no Estúdio Verde em Belo Horizonte/MG. A capa mais simplista e bastante provocante é de Dinho Bento e mostra o "seu juvenalzinho" fazendo gestos politicamente incorretos ao mundo atual ( como exibir o dedo do meio ) com um cigarro nas mãos e denotam a proposta musical e conceitual das letras da banda.

    Dito isso é hora de 'apertar o play'.... Opa!!! neste caso colocar a bolacha para rodar e ouvir a primeira do Lado A ( e quanto tempo não escrevo isso e acredito que aqui no Rock On Stage seja a primeira vez... ), que é a Homem Analógico, que apresenta um ritmo Indie/Alternativo de letra contemporânea criticando a sociedade digital que vivemos com as vocalizações descompromissadas de Bruno Bastos, além de linhas instrumentais mais poderosas nos riffs de guitarra feitos por Edson Zacca. Em Free Ordinário, o Seu Juvenal nos mostra uma canção mais agressiva nos seus vocais e também uma pegada mais Stoner misturada com Punk Rock na bateria e baixo, que enfatizam os solos de guitarra, que passam belas dosagens de distorção.

    Depois, o quarteto acelera na execução de Antropofagia Disfarçada e assim revela uma significativa adrenalina de baixo e bateria em um crescente de vocais mais revoltados, que caminham para uma viagem instrumental onde são exibem muita técnica, tais quais rolavam nos anos 70 naquelas sensacionais Jams e isso... com o vocalista Bruno Bastos berrando sem parar, ou seja, eletricidade pura.

    Mais calma por seus dedilhados iniciais, Asfalto mostra um lado mais introspectivo do Seu Juvenal, cuja letra é vocalizada com competência por Bruno Bastos e denota o caos social atual de nosso país com a participação de Maxseul Sancho no baixo acústico. Fechando o Lado A de Rock Errado temos a instrumental Louva-a-Deus, que passa um andamento mais nervoso com pitadas de Punk aqui e de Rock´n´Roll acolá, mas isso antes da surpresa que temos na incursão mais acústica no final com o convidado Ronaldo Vilela no violão e voz, daquelas que parecem que foram sobras de estúdio e que estão aplicadas no ponto certo do álbum.

     No Lado B temos Um Dia de Fúria - que bem como seu nome deixa claro - apresenta vocais mais raivosos em um estilo Psicodélico misturado a um Rock Brasil dos anos 80 a la Titãs com trechos que nos mostram muito peso de bateria entre suas distorções viajantes de guitarra. Nos riffs de guitarras temos Guilherme Demente junto a Edson Zacca elevando a categoria dos solos. Na faixa título, a Rock Errado, o Seu Juvenal trouxe três vocalistas convidados, sendo eles: Manu Joker do Uganga, Cloide Sara e Camila Vieira, que juntos dão mais vigor ao envolvente Rock´n´Roll desta música. Aliás, chamo sua atenção para as viradas no andamento que eles realizam nesta composição. Para Moleque Dissonante, o quarteto aborda em sua letra a questão dos meninos de rua em uma canção com uma pegada mais Indie, que traz o convidado Guilherme Demente para novamente alucinar em seus riffs de guitarras e ajudar a transformar a canção onde o vocalista Bruno Bastos canta de forma mais agressiva.

    Com A Chuva Não Cai temos uma música 'nonsense' com as participações de Pamelli Marafon no piano e teclados, Guite Congo Powers na guitarra e Euler Alves na percussão entre seus trechos mais alternativos, que estão lotados de distorções nos solos de guitarra e a terminam de forma mais raivosa.

    Mostrando toques melancólicos no piano tocados pelo convidado Pitágoras Silveira, Burca com sua cara distante e 'perdidona' ficou com a missão de encerrar o disco Rock Errado, que em seu decorrer fica mais colérica, veloz e o Seu Juvenal a modifica para um Punk Rock atordoante surpreendendo pela forma que se dedica ao som, tanto na parte instrumental quanto na vocal, nos passando uma intensidade impressionante cheia de revolta.

    Poderia dizer que Rock Errado é um disco de Punk, Indie, Alternativo, mas não é.... trata-se de um som elétrico, incansável, ácido, perturbado e que demonstra uma banda sem limites para tocar... enfim, trate de conhecer essa trupe chamada Seu Juvenal.
Nota: 9,5.

Sites: www.seujuvenal.com.br, www.facebook.com/seujuvenalmg,
www.twitter.com/seujuvenalmg, www.soundcloud.com/seujuvenal,
www.youtube.com/seujuvenalmg e www.sapolioradio.com.br.

Por Fernando R. R. Júnior
Setembro/2015

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