Slaughter To Prevail - America Latina 2025
Abertura: AXTY

Sábado, 29 de março de 2025
Vip Station - São Paulo/SP

    No último sábado de março, dia 29, a casa de shows Vip Station em São Paulo/SP foi palco de uma tempestade sonora daquelas que ficam marcadas na pele de cada um dos fãs que compareceram em massa no local ( sim... estava lotado ). Metalcore e Deathcore se uniram numa noite de intensidade crua, onde cada acorde reverberava como uma descarga elétrica no peito dos fãs.

    A missão de abrir os caminhos ficou nas mãos da banda paulista AXTY, preparando o terreno para a estreia aguardadíssima dos russos do Slaughter To Prevail em solo brasileiro. E os russos estão em ascensão Metalcore mundial, pois, alcançaram a marca de 20 milhões de reproduções no Spotify das músicas "Demolisher", "Baba Yaga", "Bratva" e "Viking", sendo que cada uma delas conquistou essa marca para si.

    Cheguei à Vip Station e o clima já estava carregado de expectativa. A casa estava lotada e a fila para o merch da banda dobrava a esquina - totalmente compreensível, já que o Slaughter To Prevail é, sem exageros e como disse nas linhas acima... uma das bandas mais aguardadas pelos fãs brasileiros. Eu mesma costumo ouvir os caras durante meus treinos, então ver tudo aquilo ganhando vida foi surreal.

AXTY

    A AXTY é uma banda nacional que já carrega uma identidade própria muito marcante. Formada em São Paulo/SP e idealizada em 2016 por Felipe Hervoso como um projeto solo chamado Anxiety, a proposta nasceu de algo bem íntimo: uma forma de expressar as dores internas ligadas à ansiedade e à depressão. Com o tempo, o projeto tomou forma de banda completa, hoje contando com Felipe Hervoso nos vocais, Felipi Grivol na guitarra, Jonathas Peschiera no baixo e Gabriel Vacari na bateria.

    Às 20h em ponto, o grupo subiu ao palco com uma presença tão impactante que não dava espaço para a dispersão. Em apenas 30 minutos de set, eles mostraram exatamente o porquê de estarem ali. Começaram com Take Me Down, do EP lançado em 2023, e logo nos primeiros segundos, já dava para sentir que não seria apenas mais uma abertura: eles estavam ali para marcar território. A energia era absurda - palco e pista vibrando juntos.

    Na sequência, Fragile ( single lançado no começo de 2025 e que será parte do quarto álbum da banda ) tomou conta do ambiente com sua carga emocional brutal. Uma daquelas músicas que te desarma por dentro. A interpretação de Felipe Hervoso foi visceral, quase como se cada palavra cantada abrisse uma nova ferida para o público enxergar. A galera respondeu em silêncio respeitoso, mergulhada no momento.

 

    Quando chegou a vez de Relaxing Nature Sounds, do terceiro disco de estúdio, o Hannya de 2024, o clima mudou. A música tem um jogo interessante entre calma e caos, oferecendo um alívio momentâneo, mas, sem perder o peso emocional que é marca registrada da banda. É como flutuar em meio ao colapso - sereno, mas, impactante.

    Fade Away ( do EP de mesmo nome lançado em 2024 ) trouxe de volta a de seu som em uma fusão perfeita entre peso e melodia. A transição entre momentos mais agressivos e passagens etéreas mostrou o quanto a banda sabe trabalhar nuances. A plateia estava em sintonia sentindo cada batida como se fizesse parte da música.

    Fall Again ( título do outro EP e também lançado em 2024 ) veio logo depois expondo uma faceta mais densa e experimental da banda. A construção da canção é cinematográfica, melancólica e poderosa. A performance foi tão imersiva, que era difícil não se perder dentro daquele universo - olhos fechados, arrepios e aquela sensação de que algo muito verdadeiro estava sendo dividido com todos ali.

    E aí veio Dismay ( outro single saiu em 2024 e precede o vindouro quarto álbum do AXTY ) com a força de um terremoto emocional. A música é um soco no estômago, com riffs agressivos e vocais que pareciam sair das entranhas. A pista se transformou num redemoinho de moshs e energia descontrolada. Era libertação em estado bruto.

    Depois, a calmaria relativa com Flowers and Butterflies Lullaby. Apesar do nome leve, a canção que intitula o EP de 2024 carrega uma densidade poética enorme. É como uma pintura feita de som - introspectiva, todavia cheia de camadas pesadas. Um momento que ofereceu fôlego, porém, sem sair da essência sombria e emocional do set.

    O ápice veio com You’ll Find Me, do EP Six Feet Under de 2023. Felipe Hervoso mal anunciou a música e já lançou um chamado para o Wall Of Death. A galera, em êxtase, atendeu na hora. E quando os primeiros acordes surgiram foi como se o espaço explodisse em adrenalina - um verdadeiro ritual coletivo de caos e catarse.

    O encerramento veio com Six Feet Under ( que concede o seu nome ao EP ) e foi o fecho perfeito. Guitarras afiadas, vocais vigorosos, letras que mergulham no fundo da alma. O público entregou tudo da primeira à última nota. A AXTY saiu do palco com os olhos brilhando e o respeito conquistado - mais do que merecido.

Setlist do AXTY

1 - Take Me Down
2 - Fragile
3 - Relaxing Nature Sounds
4 - Fade Away
5 - Fall Again
6 - Dismay
7 - Flowers and Butterflies Lullaby
8 - You'll Find Me
9 - Six Feet Under

 

Slaughter To Prevail

    Às 21h em ponto, o palco mergulhou na escuridão. O silêncio que precedeu o caos foi quase solene. E então... BOOM! Quando os russos apareceram foi como se o chão tivesse se aberto. O público explodiu e o Slaughter To Prevail entrou como uma entidade de destruição - não era só uma banda iniciando o show, era um fenômeno colidindo com a cidade.

    Alex Terrible com seus guturais abissais se impôs de forma quase mitológica. A presença dele é algo difícil de explicar: magnética, ritualística, animalesca. Jack Simmons na guitarra, atacava riffs como se fosse a última coisa que faria na vida. Mikhail "Mike" Petrov ( baixo ), Evgeny Novikov ( bateria ) e Dmitry Mamedov ( guitarra rítmica ) completavam esse arsenal sonoro com uma sincronia quase sobrenatural.

    A banda nasceu em 2014, na gelada Yekaterinburg, mas, atualmente está baseada em Orlando, na Flórida. Apesar da mudança de cenário, carregam com eles a fúria e a melancolia típicas do leste europeu. E naquela noite, derramaram isso em cima da plateia brasileira sem piedade.

    Começaram com Bonebreaker do álbum Kostolom de 2021 e logo surgiram com suas máscaras icônicas - uma visão quase apocalíptica. Era como assistir a um pesadelo se materializando. O fervor foi imediato. Bastaram os primeiros acordes e o moshpit abriu como uma cratera.

    Na segunda música, a Baba Yaga também do Kostolom, Alex Terrible tirou a máscara revelando um rosto tomado por uma fúria real. O olhar do boxeador cruzando com o da plateia foi um dos momentos mais impactantes da noite. Em tempo: Alex Terrible é boxeador e estreou em janeiro de 2025 com vitória por nocaute em menos de um minuto contra Mukhamedkhan Ospanov. A conexão entre banda e público era direta, sem filtro, como se ele estivesse falando de alma para alma. Enquanto isso, os outros integrantes seguiam mascarados, criando um contraste visual forte e teatral.

    Conflict, canção título do álbum de 2023 manteve o nível de destruição lá em cima. A bateria parecia metralhadora, os riffs cortavam o ar como lâminas e o breakdown foi devastador. A galera surtou e a banda parecia alimentar-se daquela energia animalesca. A vibe mudou com Koschei ( nova composição ), que foi mais sombria, carregada de misticismo. Cada acorde parecia invocar espíritos de lendas russas, como se estivéssemos participando de um rito ancestral. Hipnótico e intenso.

    Viking do EP Behelit de 2024 entrou como um chamado para a guerra. Era impossível não se sentir parte de algo maior. O público virou um exército em fúria marchando ao som dos riffs. Um verdadeiro grito de resistência. Bratva, mais uma de Kostolom trouxe aquele senso de irmandade agressiva. O refrão foi cantado em uníssono, como um hino tribal. Era emoção pura misturada com caos - exatamente como o Deathcore deve ser.

    Com mais uma composição nova, a Grizzly, o clima ficou mais soturno. A música tem um peso quase sufocante, alternando entre momentos arrastados e explosões brutais. Parecia um animal prestes a atacar, observando bem a presa antes de avançar.

    Hell do EP Chapters Of Misery de 2015 fez jus ao nome: luzes vermelhas, berros viscerais e uma aura quase opressiva dominaram o ambiente. Era como estar preso num pesadelo infernal - e todo mundo parecia amar estar ali.

    1984, carregando aquela referência direta ao aclamado livro de George Orwell e que empresta seu título ao single de 2022 também ao trouxe um tom distópico, quase frio. Era como ouvir uma crítica à opressão sendo martelada através de riffs pesados e uma fúria que vai além da música.

    I Killed a Man foi um mergulho profundo nas sombras da culpa e da fúria. A carga emocional dessa música presente no disco Kostolom é absurda. Foi um dos momentos mais impetuosos do set, com o público em transe. Behelit, inspirada no universo de Berserk e que serve como título do EP de 2024 trouxe uma atmosfera cinematográfica. Era como assistir a um filme de guerra e fantasia ao vivo - épico, trágico e ao mesmo tempo libertador.

    Kid Of Darkness, outro single de 2024, começou introspectiva, entretanto, foi crescendo até explodir num clímax emocional destruidor. Foi como se cada verso cortasse a alma de quem ouvia. E para encerrar, claro, Demolisher do Kostolom. Não existia outro encerramento possível.

    O breakdown mais icônico da banda foi executado com precisão cirúrgica e a resposta da plateia foi simplesmente insana. Parecia que a estrutura da Vip Station ia ruir. Um término apoteótico, com suor, gritos, mosh, e aquela sensação de que vivemos algo único. É... realmente o Slaughter To Prevail fez uma brilhante estreia na capital paulista, que não só deixou os fãs contentes como com seus pescoços destruídos.
 

Texto e fotos: Erika Beganskas
Agradecimentos à equipe da GOS Concerts, Xaninho Discos
e a Tedesco Mídia pela oportunidade,
 atenção e credenciamento
Abril/2025

Setlist do Slaughter To Prevail

1 - Bonebreaker
2 - Baba Yaga
3 - Conflict
4 - Koschei
5 - Viking
6 - Bratva
7-  Grizzly
8 - Hell
9 - 1984
10 - I Killed a Man
11 - Behelit
12 - Kid Of Darkness
13 - Demolisher

 

Galeria de 22 fotos dos shows do Slaughter To Prevail e do AXTY
no Vip Station em São Paulo/SP

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