São Paulo Trip - Concert Series: Primeiro Dia
Com: The Who, The Cult e Alter Bridge

Allianz Parque - São Paulo/SP
Quinta Feira, 21 de Setembro de 2017
   

Noite Histórica e inesquecível

    No passado, em setembro de 1957 Jack Kerouac publicou o livro On The Road ( Pé na Estrada ), onde contava a história de dois amigos que cruzaram os Estados Unidos em uma viagem que se tornou símbolo de liberdade e atitude de uma geração inteira do pós-guerra. 70 anos depois, no mesmo mês de setembro milhares de pessoas foram até à capital paulista para conferirem o São Paulo Trip - Concert Series, uma referência ao festival Desert Trip ( que levou nos três dias de sua primeira edição as míticas bandas The Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Neil Young, Roger Waters e The Who, que se apresentaram no final de semana compreendido entre 15 a 17 de outubro de 2016 na cidade de Indio na Califórnia ).

    O São Paulo Trip - Concert Series proporcionou uma histórica e inesquecível sequencia de shows com alguns dos mais importantes nomes da história do Rock no Brasil em quatro dias: The Who ( pela primeira vez no país ), The Cult e Alter Bridge na quinta dia 21/09, Bon Jovi e The Kills no sábado dia 23/09, Aerosmith e Def Leppard no domingo 24/09 e Guns'N'Roses, Alice Cooper e Tyler Bryant & The Shakedown na terça dia 26/09.

    Nesta primeira parte desta cobertura especial do Rock On Stage detalharei como foi o primeiro dia do São Paulo Trip - Concert Series centrando aos shows que aconteceram na ensolarada e quente quinta feira 21/09, onde fãs da cidade de São Paulo/SP e de centenas de cidades do país ( e até de fora ) puderam conferir a primeira apresentação do The Who em solo brasileiro, fato que já tornou este dia lendário para cada um de nós, além do The Cult e do Alter Bridge.

Alter Bridge

    O Alter Bridge surgiu quando o Creed deu uma parada em suas atividades, porém, Mark Tremonti ( guitarra ), Scott Phillips ( bateria ) e Brian Marshall ( baixo e ex-Creed ) se juntaram ao ótimo Myles Kennedy ( vocais e guitarra, que ficou conhecido aqui por ser o vocalista do Slash & The Conspirators, projeto solo do guitarrista do Guns'n'Roses ) em 2004 na cidade de Orlando no estado da Flórida nos EUA. Lógico que foram apontados como supergrupo de Metal Alternativo/Post Grunge e nestes anos de existência lançaram cinco álbuns de estúdio e três ao vivo, sendo o último intitulado como The Last Hero ( 2016 ), cuja turnê de divulgação foi o motivo desta primeira visita da banda no Brasil. Sim, apesar todos já terem visitado o Brasil em outras oportunidades em outros projetos, como Alter Bridge, eles debutaram no país.

    E a missão do Alter Bridge neste final de tarde era consideravelmente grande: a primeira banda do São Paulo Trip - Concert Series e que aqueceria a galera para o The Who... só isso. Assim que entrei no Allianz Parque e fui até próximo do palco deu para ver que ainda o estádio não estava lotado, afinal, era uma quinta feira e era cedo de forma que o público iria demorar um tanto ainda para chegar. Inclusive, fiquei impressionado com o tamanho dos telões laterais e do telão principal, que me provaram que o São Paulo Trip iria contar com uma estrutura de respeito.

    Pontualmente às 18:15, o quarteto já estava no palco para o seu primeiro show da The Last Hero Tour em São Paulo/SP com o telão principal exibindo a capa do cd e empolgados, eles começaram com a distorcida Come To Life do Blackbird ( de 2007 ), que foi bem cantada por Myles Kennedy, que estava empunhando uma guitarra e contou com assovios e punhos ao alto de muitos dos presentes.

    Depois prosseguiram com a pesada, mais rápida e dotada de linhas mais modernas Addicted To Pain, gravada no Fortress em 2013. Myles Kennedy dedilha sua guitarra para a Ghost Of Days Gone By ( do AB III de 2010 ) com um estilo mais moderno, que foi acompanhada nas palmas para depois passar uma linha melodiosa bem interessante e agradável, onde pude perceber a sua conhecida e ótima voz. Claro que os trechos mais pesados feitos pelo guitarrista Mark Tremonti se fizeram presentes neste estilo do Alter Bridge.

     Myles Kennedy solta um "E aí galera!!!" em português e conversa um pouco com os fãs dizendo "finally" em uma clara referência a estar no Brasil e para comemorar isso, hora de Cry Of Achilles, que era aguardada pelos fãs, pelo tanto que agitaram nesta música do cd Fortress.

    Mark Tremonti e Brian Marshall não se movimentaram tanto pelo palco, mas, mantiveram a postura, dispararam vários solos e claro, a base para Myles Kennedy garantir a emoção na sua forma de cantar e em seus sorrisos. Do novo The Last Hero, o Alter Bridge apresentou a Crows On A Wire, que apareceu com distorções mais fortes, seguiu por linhas mais pesadas e mostrou que o quarteto estava com vontade de deixar um ótimo show na memória dos fãs.

    Myles Kennedy apresenta Mark Tremonti e este começa a cantar e dedilhar as notas de Waters Rising do Fortress, que começa mais lenta, bem alternativa e em seu decorrer ganha um ambiente mais pesado e mais Rock'n'Roll, que graças ao carisma do guitarrista, vários fãs participaram com ele erguendo os punhos e em resposta ganharam solos bastante distorcidos e um tanto que longos.

    Após uma nova troca de guitarra, Myles Kennedy reassume os vocais e a robusta Isolation do AB III continuou com o show do Alter Bridge no São Paulo Trip, onde destaco a atuação do baterista Scott Phillps. O nome da próxima - Blackbird - é idêntico à uma excelente canção dos Bealtes e Myles Kennedy até tirou alguns acordes da famosa homônima composição, mas, lógico, foi a criação que intitula o segundo álbum do Alter Bridge que eles tocaram com o vocalista passando muito 'feeling' em seus versos na mais emblemática exibida neste início de noite com direito a um longo solo de guitarra de Mark Tremonti.

    Como são americanos, a influência do Blues sempre se faz presente e logo nos enviam a Open Your Eyes do disco de estreia do quarteto, o One Day Remains de 2004, que é bem mais conhecida e teve seu refrão - ainda que timidamente - cantado por muitos quando provocados por Myles Kennedy. O vocalista apresenta o baterista Scott Phillips e o baixista Brian Marshall para juntos receberem as palmas da plateia e tocarem a Metalingus, outra do primeiro registro do Alter Bridge, que também se mostrou bastante aguardada pelos fãs, que agitaram mais.

   Contentes com o público, o vocalista diz que é maravilhoso estar tocando para nós e a Rise Today, outra do Blackbird, que por se tratar de um hit escolhido com precisão como a última música do show contou uma participação maior do público, assim que solicitados por Myles Kennedy durante os prolongamentos aplaudindo no ritmo e gritando bastante.

    Foi um ótimo show de abertura do São Paulo Trip realizado pelo Alter Bridge, que certamente garantiu a felicidade dos mais fãs da banda, também agradou muitos daqueles que estavam no estádio somente para assistirem ao The Who e credenciou ao quarteto uma futura visita no país sozinho.

Set List Alter Bridge

1 - Come To Life
2 - Addicted to Pain
3 - Ghost of Days Gone By
4 - Cry of Achilles
5 - Crows On a Wire
6 - Waters Rising
7 - Isolation
8 - Blackbird
9 - Open Your Eyes
10 - Metalingus
11. Rise Today

 

The Cult

    A segunda atração do São Paulo Trip - Concert Series, o The Cult foi a única que não se apresentou no Rock In Rio e que fez questão de se apresentar na capital paulista no mesmo dia que o The Who. Aliás, o The Cult é uma banda inglesa dos anos 80, que já nos rendeu muitos clássicos do Rock e é formada atualmente por Ian Astbury nos vocais, Billy Duffy na guitarra, John Tempesta na bateria, Damon Fox nos teclados e Grant Fitzpatrick no baixo. O The Cult retornou ao Brasil para a divulgação de seu último álbum de estúdio o Hidden City, que foi lançado em 2016 e sua apresentação - conforme conferi em 2008 ( leia resenha ) - é sempre um mergulho no melhor do Rock'n'Roll.

    Mantendo a pontualidade do São Paulo Trip - Concert Series, o The Cult subiu no palco às 19:45, que estava com uma enormes e bonitas flores em seu telão principal, conforme estampado na capa do cd Hidden City, enquanto que a introdução, que lembra música japonesa era tocada para que pudéssemos ver o cabeludo Ian Astbury com uma jaqueta de couro, Billy Duffy de cabelos curtos e uma pequena barba e os demais membros da banda para já soltarmos um grito eufórico e em retribuição tivemos o Rock'n'Roll empolgante de Wild Flower, canção que abre o cd Electric de 1987, onde o animado vocalista cantava, batia em seu pandeiro e andava pelo palco, enquanto que Billy Duffy disparava aqueles solos envolventes em sua Gibson SG.

    A segunda foi o sucesso Rain do álbum Love de 1985, que foi cantada por todos, que já começaram a pular com o vocalista, que ao se dirigir para a extremidade esquerda do palco ganhou uns "yeaaah" da galera ao mexer conosco. Os prolongamentos feitos pelo The Cult, que obteram palmas e os toques mais rápidos do baterista John Tempesta conferiram a esta canção uma aura ainda mais emblemática e que só pode ser sentida em um show.  

    Ian Astbury emenda um "olê... olê...olê... Brasil!!!" antes de Dark Energy do novo Hidden City e percebemos que registraram uma composição mais pesada, porém, com uma base bem Rock e deveras interessante, por conta de suas distorções e trechos mais lentos. Ian Astbury nos agradece com um sonoro "obrigado" e nos cumprimenta com um "tudo bem" para anunciar: "este é um show de Rock'n'Roll" ( em inglês ) e com toda essa alegria emendou a Peace Dog do Electric, que também foi cantada por muitos, levou punhos ao alto e olhares atentos aos solos de Billy Duffy em sua guitarra.

    O vocalista não tem dó de bater em seu pandeiro, inclusive durante a Lil' Devil, fez uma 'embaixadinha' com ele e os demais garantem o Rock'n'Roll vibrante desta canção do disco Electric, cujos solos de guitarra foram excelentes. Portando uma Gibson SG preta, Billy Duffy começa os riffs distorcidos e longos presentes em Deeply Ordered Chaos, outra música do Hidden City, que é mais viajante e cadenciada de forma que ficamos prestando atenção na entrega de Ian Astbury ao cantá-la e também nos breves solos mais Rock'n'Roll de Billy Duffy, que depois aplicou distorções em sua guitarra que logo se tornou a The Phoenix, que também foi gravada no álbum Love e ao percebermos de qual música se tratava, a reação não foi outra a não ser erguer os braços sempre que solicitado pelo vocalista. Nesta John Tempesta faz um breve solo, que é suplantado pela guitarra de Billy Duffy e os gritos de Ian Astbury.

    A sequencia seguinte foi para incendiar o Allianz Parque, pois, começou com a Rise do Beyond Good And Evil de 2001 e contou com Ian Astbury perguntando se estamos sentindo a energia ( e como estamos!!! ), que inclusive jogou seu pandeiro para a plateia, que ficou de olho nos riffs de Billy Duffy e na vibração que era passada com suas notas.

    O vocalista enfatiza que é uma noite especial para a banda e alterna "Brasil... Brasil... Brasil..." com "São Paulo... São Paulo... São Paulo..." para que nos teclados e nos sempre elétricos solos de guitarras, a conhecida Sweet Soul Sister do Sonic Temple de 1989 eclodisse no estádio e nós procurássemos cantar seus versos com o The Cult com sorrisos no rostos durante os prolongamentos, que foram acompanhados nas palmas e contaram com solos mais voltados ao Blues de Billy Duffy em sua Gibson SG preta e uma repetição do refrão de forma a aumentar bastante nosso contentamento.

    Os primeiros acordes da conhecidíssima She Sells Sanctuary já denunciaram que esta seria a próxima do show e a reação do público foi de pular, aplaudir e gritar "hey... hey... hey..." com este sucesso do Love, ainda mais com a linhagem Rock'n'Roll realizada pelo The Cult, cheia de solos de guitarra e um vocalista dominando o palco. Ainda revisitando o clássico Sonic Temple, Fire Woman sacudiu o Allianz Parque e Ian Astbury foi de ponta a ponta do palco e comandou nossa euforia com primor do grande frontman que é.

    O vocalista comenta que pouco depois teremos Roger Daltrey, Pete Townshend e que estavam se apresentando na mesma noite que seus ídolos de infância e grita o título da seguinte, que foi a emblemática Love Removal Machine do Electric em uma versão Rock'n'Roll, que estava simplesmente repleta de adrenalina e que teve a responsabilidade de encerrar este excelente show do The Cult na capital paulista com uma aceleração no ritmo feita pelos músicos da banda de forma impressionante.

    Após uma hora de show eles se despedem, jogam palhetas e baquetas com uma felicidade tão grande quanto a nossa, afinal, realizar uma apresentação em um estádio e abrindo para um nome como o The Who é para marcar a vida de qualquer pessoa, mesmo de músicos talentosos e gabaritados como os que formam o The Cult.

Set List do The Cult

1 - Wild Flower
2 - Rain
3 - Dark Energy
4 - Peace Dog
5 - Lil' Devil
6 - Deeply Ordered Chaos
7 - The Phoenix
8 - Rise
9 - Sweet Soul Sister
10 - She Sells Sanctuary
11 - Fire Woman
12 - Love Removal Machine

 

The Who

    A maneira que se aproximava o início do show do The Who, a adrenalina dentro de cada célula aumentava, pois, afinal, depois de mais 50 anos quando Roger Daltrey ( vocais ), Pete Townshed ( guitarra ), John Entwistle ( baixo ) e Keith Moon ( bateria ) criaram a banda em 1964, finalmente, o Brasil foi agraciado com uma turnê desta lenda inglesa, que divide a importância e a magnitude dos maiores nomes da história do Rock ao lado de The Beatles e The Rolling Stones.

    Por conta da partida dos saudosos Keith Moon ( que nos deixou em 1978 ) e John Entwistle ( falecido em 2002 ), o line up do The Who presente nesta noite, além dos citados Roger Daltrey e Pete Townshend, era um pouco diferente do original, e possui os seguintes músicos: Zak Starkey ( filho do baterista dos Beatles Ringo Starr ) na bateria, John Button no baixo, Simon Townshend ( irmão de Pete Townshend ) na guitarra, John CouryLoren Gold nos teclados e Frank Simes na direção musical, outros instrumentos e teclados.

    Antes mesmo de eles entrarem no palco o show começou com filme exibido no telão principal retratando fotos com os principais eventos da história do The Who, tais como a participação nos lendários festivais de Monterrey Pop de 1967 e no Woodstock em 1969, as primeiras turnês pelo mundo, fotos de shows, que somadas causaram um frisson maior em cada um dos presentes e que exibiram também a imagem do lançamento da champagne de Roger Daltrey comemorativa aos 50 anos da banda e também para a Ópera Rock Tommy, a primeira que temos notícia. Homenagearam também Keith Moon com algumas fotos dele 'moendo' sua bateria e a última imagem foi "mantenha a calma, aí vem o The Who", como se fosse possível...   

Primeiro, os clássicos

    Bem... e de acordo com o programado, às 21:30, o The Who estava diante de nossos olhos sendo saudados por gritos de "Who... Who... Who..." e recompensaram com o primeiro single da banda de 1965, a I Can't Explain com Pete Townshend e Roger Daltrey cantando os seus versos, sendo que o guitarrista estava com uma Fender Stratocaster bege e já girou o braço naquele conhecidíssimo estilo, que garantiu um estado de plena alegria no público do Allianz Parque, que agora era muito maior que antes.

    The Seeker, do single de 1970, que eu ouvi mais sua versão feita pelo Rush trouxe mais Rock'n'Roll clássico em nossas almas e eles tocaram com uma tranquilidade enorme. Antes da terceira, Pete Townshend vai ao microfone e grita: "São Paulo, estou contente por ver vocês" e então, eles colocam o estádio abaixo com Who Are You, título do álbum de 1978, que se tornou muito conhecida pelas gerações mais novas por ser tema de abertura do seriado policial C.S.I. e que para emocionar ainda mais foram inclusas imagens de John Entwistle no telão. Ver Roger Daltrey dedilhando seu violão, cantando como um garoto e Pete Townshend solar sua guitarra nesta música foi quase indescritível. Quem estava na pista pulou, socou o ar, aplaudiu e cantou muito com o The Who, afinal, tinha como pensar em ficar parado?

    Do primeiro álbum de estúdio do The Who, o My Generation de 1965 tivemos a certeira The Kids Are Alright, anunciada por Pete Townshend enquanto que no telão vimos imagens dos anos 60 com a galera viajando de moto e nós no Allianz Parque na sonzeira pura Rock'n'Roll destes dois senhores. O guitarrista, que estava empunhando agora uma Fender Stratocaster dourada vai ao microfone para dizer: "é a nossa primeira vez na América do Sul, nossa primeira vez no Brasil. Estamos muito felizes por estar aqui" e Roger Daltrey complementa: "You can´t see for miles? I Can See For Miles" para que o sucesso do Sell Out de 1967 fosse tocado e cantado por todos. E Zak Starkey, que é afilhado de Keith Moon, mostrou que aprendeu a socar sua bateria com precisão, sendo que música por música sua garra e sua pegada foram espantosas.

    Os primeiros acordes do hino My Generation ( canção título do primeiro álbum da banda ) denunciaram que seria hora de pular e gritar seus versos com a banda, pois, esta é dotada de um estilo que os Punks utilizaram uma década depois, e na versão desta noite aplicaram prolongamentos mais Rock'n'Roll com improvisos com trechos de Cry If You Want do It´s Hard de 1983, que fizeram e fazem a diferença ao vivo com um empolgado Roger Daltrey se movimentando um pouco mais pelo palco, que mirou seu microfone para a plateia com a intenção de captar nossos berros.  

    Ao final de cada música, os fãs sempre gritam "Who... Who... Who..." e Pete Townshend pega o microfone e nos conta o seguinte: "esta é do  álbum Who's Next..." e dedilha em sua guitarra as notas mais viajantes de Bargain com direito a Roger Daltrey a andar mais para a esquerda do palco ( e para onde eu estava ), sendo que minha felicidade aumentou exponencialmente. Muito bacana que o guitarrista, novamente com sua Fender Stratocaster vermelha, dividiu os versos com Roger Daltrey reproduzindo uma das características mais importantes do The Who: as melodias vocais. Aliás, cabe mais um comentário, mesmo com 73 anos, não para quieto e fica se movimentando bastante contagiando a todos sem exceção.

     A belíssima balada Behind Blue Eyes contou com Roger Daltrey no violão cantando com emoção formando assim, um grande coro por todos os lados do estádio, que fizeram questão de cantar com os dois músicos no palco, que juntos a banda promovem a virada mais acelerada e Rock'n'Roll deste clássico do Who's Next de 1971. Com o baixista John Button enviando os conhecidos toques de Join Together, a festa fica ainda maior, pois, esta música lançada em single em 1972 tem uma positividade enorme e inspira a cantar com eles, sendo exibida imagens da plateia nos telões para mostrar união que esta canção provoca.

    Os dedilhados de You Better You Bet do Face Dances de 1981 também levantou a galera ( aliás, teve alguma que nós ficamos quietos? claro que não... ) ao vermos os senhores Roger Daltrey e Pete Townshend com suas excelentes vozes cantando com muita dedicação e potência junto ao coral formado pelos quase 40.000 mil fãs presentes.

Quadrophenia

    Pete Townshend vai ao microfone e avisa que vai cantar três músicas do álbum Quadrophenia de 1973 para nós ( a segunda Ópera Rock do The Who, que se tornou filme em 1979 ) e a primeira, a emblemática I'm One aos dedilhados no violão foi tocada com primor por ele e já afirmo aqui: a sua voz está muito boa para a idade que ele tem, pois, já vi muitos caras mais novos que quase se matam para cantar e Simon Townshend, auxilia o irmão no refrão.

    A impactante instrumental The Rock foi a segunda e as imagens no telão principal alternaram com a trajetória da banda e também muito do que de ruim aconteceu no mundo, como guerras da Coreia, Vietnã, Golfo, Iraque e Afeganistão; explosões atômicas, queda do muro de Berlim e do comunismo, ascensão ao poder de líderes insanos e que mataram milhares de pessoas, fim da Guerra Fria protagonizados por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, fome, terrorismo, destruição da natureza, mescladas com imagens do The Who, Keith Moon, John Entwistle, Elvis Presley e John Lennon entremando a magia saborosa que o Rock'n'Roll nos traz, enfim, produziram um momento para refletirmos com o que acontece no mundo que temos e para pensarmos no mundo que nós queremos. Isto foi apresentado através de uma iluminação fabulosa e devidamente marcante.

    Encerrando a trinca do Quadrophenia, tivemos a Love, Reign O'er Me com destaque ao tecladista John Coury com solos incríveis, já com Roger Daltrey de volta ao palco para cantar seus versos e nos deixar ainda mais admirados com sua voz e com os solos que Pete Townshend tira de sua guitarra, assim como também o magnífico trabalho de Zak Starkey na bateria provando que é um verdadeiro discípulo do legado de Keith Moon.

    Com uma linha instrumental muito interessante, Pete Townshend com uma Fender Stratocaster vermelha começa os solos de Eminence Front, composição presente no It´s Hard que é mais eletrônica ( até por conta do uso dos sintetizadores no início dos anos 80 por praticamente todas as bandas de Rock ) e canta sua letra com uma certa raiva nos vocais, enquanto que Roger Daltrey com uma guitarra bege contribuía para os solos e cuidou dos backing vocals. Apesar dos efeitos visuais e da nossa enorme alegria por estar no show do The Who, esta deu uma leve abaixada na vibração do show, porém, em contrapartida serviu para observarmos seu excelente solo final com direito a Pete Townshend a erguer o braço no último riff.

Tommy

    A primeira Ópera Rock do The Who foi conhecida por Tommy, que foi lançada em 1969 e para mim a mais marcante da carreira da banda foi lembrada também nesta histórica noite com a fascinante Amazing Journey, onde Roger Daltrey a cantou com uma leveza bem grande para que depois o desmoronamento instrumental desta música arrepiasse cada um dos milhares de fãs no Allianz Parque. E sem dúvidas que estas músicas eram muito aguardadas por todos, pois, para onde se olhava eram celulares ligados e gravando, outros pulando e com os braços ao alto enquanto que eu tive o que posso considerar como o momento que mais 'pirei' no show.

    Amazing Journey também conta com um trabalho magnífico na bateria e aí você vê porque Zak Starkey é um excelente baterista. Nos solos de Pete Townshend com uma Fender Stratocaster dourada, Roger Daltrey bate em dois pandeiros de um jeito incomum e canta seus versos que se unem a Sparks e pouco depois na sensacional Pinball Wizard, que foi cantada a plenos pulmões por todos nos estádio e para impressionar também aos músicos do The Who, os fãs levaram bexigas vermelhas, encheram e as jogaram para o alto aumentando a interação e o compartilhamento da energia que um show de Rock costuma ter em um momento inesquecível para ambos.

    A última deste mergulho em Tommy foi a sintomática See Me, Feel Me, onde a interpretação de Roger Daltrey foi comovente e óbvio, levou todos nós a novamente a cantar com ele em um coro fantástico, que durante os solos, girou seu microfone como fazia antigamente.

    Olha... faltavam ainda músicas para conferir neste show, mas, após os mergulhos em dois dos mais importantes álbuns da história como foram os casos do Quadrophenia e do Tommy, se acabasse aqui nós todos já estaríamos satisfeitos, porém, aos gritos de "Who... Who... Who..." Baba O'Riley do Who's Next foi a próxima e novamente abalou as estruturas do Allianz Parque com toda aquela multidão cantado e pulando com Roger Daltrey, que se não fosse a excelente produção com tudo regulado corretamente, a voz dele poderia ser encoberta.

    Falando nisso, o show de luzes durante a Baba O' Riley foi algo fora dos padrões, algo que só estando lá para sentir e se emocionar mais. E presenciar Roger Daltrey solando sua gaita com a vibração que passou é para cravar na memória mesmo este show do The Who em território brasileiro, assim como o pulo característico de Pete Townshend.

    Pensa que foi só? Não... ainda tivemos o 'Rockão' Won't Get Fooled Again para atear mais fogo nos fãs já extasiados, que responderam cantando com estes lordes do Rock Mundial. Esta majestosa versão desta música do Who's Next contou com alongamentos em suas melodias, solos de guitarra e bateria que a embelezaram consideravelmente quando Pete Townshend cantou suas partes sendo acompanhado nas palmas dos fãs e contou com um grito de Roger Daltrey que você fica pensando: como que ele consegue?!?!, e desta maneira foi encerrada a primeira parte do show.

    Antes do bis, o empolgado Pete Townshend apresentou cada um dos membros do The Who, que ganharam bastante aplausos e assovios para então nos agradecer dizendo "é a primeira vez na América do Sul, muito obrigado!!!". De volta ao seu posto, hora de capitanear muita emoção com 5:15 ao dividir os vocais com Roger Daltrey nesta outra canção do Quadrophenia, que também provocou sensações inesquecíveis no público pelo grande Rock'n'Roll que é e com solos longos de Pete Townshend, que girou seu braço freneticamente e com os gritos mais encorpados de Roger Daltrey para terminar da forma mais leve. Pete Townshend agradece várias vezes e avisa que "nos veremos em breve" para pouco depois aos gritos de "Who... Who... Who..." trazer junto com os demais, o Rock'n'Roll sessentista e que está entre os primeiros compactos do The Who de 1965 chamado Substitute com sua letra alternada entre o guitarrista e o vocalista, que ficou com a honra encerrar o fabuloso e único espetáculo.

    A euforia que ficamos posso descrever como fora do comum e acredito que isso atingiu tanto Roger Daltrey quanto Pete Townshend de forma significativa, pois, ambos ficaram olhando para nós enquanto baquetas e palhetas eram jogadas aos gritos de "The Who... The Who... The Who..." e pedidos de mais músicas, que levaram o músico a falar em tom de brincadeira: "It´s over,  People go home... Go Home..."

Sonho realizado

    Para tantos de nós que jamais pensaram em suas vidas que poderíamos assistir ao The Who em uma apresentação ao vivo no Brasil, esta noite no Allianz Parque foi um acontecimento inesquecível em que a história aconteceu diante de nossos olhos, ouvidos, corações e almas. É bem verdade que Pete Townshend já avisou que em 2018 pretende tirar um período sabático para descansar e refletir sobre sua vida, mas, será que esta foi a primeira e única vez que conferirmos o The Who mesmo? Afinal, a vitalidade que eles demonstraram nestas duas horas em São Paulo, a eletricidade de suas músicas e a resposta do público diante de cada uma delas pode muito provavelmente motivar uma volta da banda aqui. Caso aconteça necessitamos de estarmos todos presentes e se não acontecer, teremos histórias para contar no futuro, pois, todos realizamos nosso sonho de assistir o The Who neste primeiro dia do São Paulo Trip - Concert Series.

Texto: Fernando R. R. Júnior
Fotos: Ricardo Matsukawa e Marcel Jabbour/Mercury Concerts
e Fernando R. R. Júnior
Agradecimentos à Denise Catto Joia, Simone Catto Joia e para a Mercury Concerts
pela atenção, oportunidade e credenciamento
Outubro/2017

Set List do The Who

1 - I Can't Explain
2 - The Seeker
3  - Who Are You
4 - The Kids Are Alright
5 - I Can See for Miles
6 - My Generation
7 - Bargain
8 - Behind Blue Eyes
9 - Join Together
10 - You Better You Bet
11 - I'm One
12 - The Rock
13 - Love, Reign O'er Me
14 - Eminence Front
15 - Amazing Journey
16 - Sparks
17 - Pinball Wizard
18 - See Me, Feel Me
19 - Baba O'Riley
20 - Won't Get Fooled Again

Encore:
21 - 5:15
22 - Substitute

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