Ozzy Osbourne - Scream World Tour
Abertura: Sepultura
Sábado, dia 02 de abril de 2011 na Arena Anhembi em São Paulo/SP

    Surpreendente, essa palavra resume a apresentação de Ozzy Osbourne na Arena Anhembi em São Paulo, mas antes, vamos à um pouco da história do "Madman": nos primeiros 10 anos de carreira, junto aos amigos Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward do Black Sabbath, e também com as bandas Led Zeppelin, Deep Purple e Uriah Heep, Ozzy é considerado um dos pais do Heavy Metal e depois nos 30 anos seguintes, em sua banda solo, Ozzy se consolidou como uma instituição viva do Metal nos brindando com álbuns que são discoteca básica para qualquer headbanger que se preze.

    Este senhor de 62 anos, completados em 3 de dezembro de 2010, está com uma energia que não vejo em muitas bandas de garotos por aí e assim como o Iron Maiden, que trouxe a The Final Frontier World Tour no Brasil ( veja a cobertura de São Paulo/SP ), já cravou a Scream World Tour entre os melhores shows deste ano.

Sepultura

    E na abertura desta noite de Heavy Metal, os brasileiros do Sepultura tinham a missão de realizar um show que mostrasse a grande capacidade técnica acumulada nestes mais de 25 anos de banda, e efetuando uma comparação com o Cavalera Conspiracy, que tocara na semana anterior abrindo para o Iron Maiden, a empolgação do show do Sepultura com os fãs foi muito maior.

    Derrick Green ( vocais ), Andreas Kisser ( guitarra ), Paulo Jr. ( baixo ) e Jean Dolabella ( bateria ) subiram logo às 20:00hs trazendo um convidado que esteve presente no final da tarde e por toda esta noite de sábado: a chuva. E no inicio do show do Sepultura, a chuva até castigou um pouco os milhares de fãs presentes na Arena Anhembi, mas o quarteto não estava nem aí para isso e abriu o set com a avassaladora Arise, título do álbum de 1992, com Jean bateu com força em seu kit de bateria e Andreas disparou notas furiosas em sua guitarra. Foi o princípio para que todos batessem a cabeça sem parar, e com Derrick usando alguns bumbos, foi iniciada a clássica Refuse/Resist  do Chaos A.D. que trouxe uma vibração que superou os Cavaleras sábado passado. Andreas prolonga os solos de guitarra e com os "Hei Hei Hei.."  por parte dos fãs, o Sepultura tocou outro clássico do Arise: Dead Embryonic Cells e neste momento a chuva resolveu 'dar um tempo'.

    Com os fãs ganhos nestas três primeiras pauladas ficou fácil para Derrick Green comandar a animação e aos gritos de "Sepultura...Sepultura!!!" e Andreas Kisser com uma guitarra Flying V executou mais de sua artilharia sonora com a agressiva Convicted In Life ( representante no set do álbum Dante XXI ), depois prolongou o solo de guitarra que levou à cadenciada e furiosa Choke do cd Aganist.  Com a garoa retornando, Andreas Kisser agradeceu aos presentes pela oportunidade de tocar novamente em São Paulo abrindo para a lenda Ozzy Osbourne e lembrou que o Sepultura está gravando um novo disco e iniciou então a pesadíssima e rápida Seethe, que me provou que o novo cd terão Thrashs de primeira.

    Em seguida, Derrick começou a falar em português ( e muito bem por sinal ) e falou que a próxima era Troops Of Doom ( do Schrizophrenia de 1987 ), e aí não teve jeito, todos agitaram sem parar e não estavam nem um pouco preocupados com a chuva, que neste momento havia ganho força. E eles mantiveram o nível de pancadaria lá em cima com outra do mesmo disco: Septic Schizo - com linhas de guitarra e bateria em um dos melhores Thrashs gravados pela banda. Fechando a trinca de músicas do Schizophrenia, Escape To The Void com seu inicio instrumental matador foi a seguinte e considerei-a como um dos melhores e mais pesados momentos do show do Sepultura, pois foi garantia de vigor metálico absoluto.

    Meaningless Moviments do Arise deu continuidade ao adrenelizante show do Sepultura e após ela Jean Dolabela fez um curto, mas vibrante solo de bateria. Depois Derrick pergunta se queremos mais, e a bordoada Territory ( do Chaos A.D. ) transformou a Arena Anhembi em uma área específica de headbanging por todos os lados. Essa foi a primeira da sequencia final do show do Sepultura que teve a cadenciada Inner Self, oriunda do cd Beneath The Remains com um arrebentador solo de Andreas Kisser, depois, o vocalista avisou que falaria em inglês e acabou saindo o bordão:" Sepultura do Brasil.. pro Brasil..." e finalizaram com eletrizante Root... Bloody Roots ( do cd Roots 1996 ) e essa era para bangear sem parar mesmo. Valeu Sepultura pelo 'showzão' perfeito para o Príncipe das Trevas.

Set List:
1 - Arise
2 - Refuse/Resist
3 - Dead Embryonic Cells
4 - Convicted In Life
5 - Choke
6 - Seethe
7 - Troops Of Doom
8 - Septic Schizo
9 - Escape To The Void
10 - Meaningless Movements
11 - Territory
12 - Inner Self
13 - Roots Bloody Roots

Ozzy Osbourne

    O intervalo entre o final do show do Sepultura e o início do show de Ozzy Osbourne foi regado a muitos clássicos do Rock e Heavy Metal que foram um entretenimento perfeito para os fãs que aguardavam pela presença do Madman no palco. Ao som de Carl Orff  de Carmina Burana e já ovacionado pelos fãs, Ozzy Osbourne pergunta do backstage: "Vocês estão prontos para ficar loucos?". A adrenalina era grande, mas confesso, não imaginei neste momento que a apresentação seria tão boa como vou narrar aqui para vocês caros leitores(as). E como todo bom britânico, Ozzy Osbourne, foi pontual e entrou no palco no horário marcado às 21:30.

    E ao contrário do show de 2008 ( leia resenha ) que tivemos vídeos engraçados de abertura, nesta quarta passagem pelo Brasil, era o básico do Rock: som alto, muito bem equalizado e a banda no palco, nada de superproduções com efeitos de fogos, luzes, ou criaturas andando para lá ou para cá ( e cá entre nós, Ozzy necessita de alguma criatura se ele é próprio  "Príncipe das Trevas" ? ). Ao lado de Ozzy, os quatro exímios músicos - Gus G. ( guitarra ), Rob "Blasko" Nicholson ( baixo ), Tommy Clufetos ( bateria ) e Adam Wakeman ( teclados e guitarra - filho de um dos maiores tecladistas da história Rick Wakeman ) - excelentes que tiveram a responsabilidade de executar os clássicos de sua carreira e souberam relembrar o Black Sabbath com uma maestria que poderia preocupar até mesmo o Tony Iommi.

     Ozzy veio ao palco com um sobretudo ( adivinhem a cor... ) preto, camiseta preta e seus olhos com uma maquiagem escura ( uma característica do nosso insano herói ), e foi com a paulada de Bark At The Moon do disco de mesmo nome de 1983 que ele abriu o show, e foi aí que vimos porque o guitarrista Gus G. ( com uma guitarra vermelha em  formado de um 'X' e um ventilador em sua frente para deixar seus longos cabelos esvoaçantes ) foi escolhido no lugar de Zakk Wylde, pois o grego executou os solos da música primorosamente. Visivelmente muito contente, Ozzy pulou, bateu palmas e andou daquele jeitão desengonçado pelo palco e com seu enorme carisma nos levou à níveis de entusiasmo que não imaginávamos que alcançaríamos neste principio de show.

    A segunda da noite foi a pesada Let Me Hear You Scream - a única executada do novo cd Scream - e Ozzy pegou uma bandeira do Brasil arremessada por um fã, se enrolou rapidamente nela e depois a deixou próxima a bateria tornando-a um dos poucos adereços do palco. Depois ele perguntou: "Vocês sentiram minha falta?" ... ( é claro que sim!!! ) e todo mundo gritou com força para ele que o show que estava quente, ficou ainda melhor quando os solos obscuros dos teclados de Adam Wakeman ( que realizou uma viagem digna do que o pai fazia no Yes, e também no Black Sabbath, pois os teclados Sabbath Bloody Sabbath e Sabbra Cadabra são do Rick Wakeman ) entregaram que a próxima era Mr. Crowley ( do Blizzard Of Ozz de 1981 ) e este clássico do Heavy Metal trouxe Ozzy com o sorriso maligno de Aleister Crowley criando uma vibração única.

    Embora não fosse um efeito do show, a garoa voltou e Ozzy que sempre adorou se molhar, a saudou com um sonoro "Fuck The Rain!!!", pegou um balde e molhou-se para, digamos " ficar igual" aos seus milhares de súditos. Depois, pegou um esguicho de água com espuma para molhar ainda mais ( ou seria abençoar ? ) os que se encontravam bem à frente, aliás, o sorriso de felicidade de Ozzy ao fazer isso era imenso. Antes da seguinte ele disse: "Não continuo se não escutar vocês" e com o longo grito dos fãs, a excelente I Don´t Know ( outra do primeiro álbum Bizzard Of Ozz ) veio em cena e o espetáculo prosseguiu em um grande agito. E quem merece um destaque à parte é Tommy Cufletos com seu estilo peculiar, técnico e muito pesado de tocar sua bateria de bumbos duplos que deu para ser muito bem percebido nesta canção.

    Depois de nos levar aos clássicos de sua carreira solo, Ozzy nos fez mergulhar no tempo e voltamos para os anos que o Black Sabbath reinava no mundo do Heavy Metal praticamente absoluto com Fairies Wear Boots ( do Paranoid ) e os "Hey...Hey...Hey..." que o vocalista entoou serviram para que o vigor do show aumentasse ainda mais, pois Gus G. e Rob "Blasko" Nicholson encarnaram Tony Iommi e Geezer Butler com perfeição realizando as improvisações que conhecemos na original, com a ajuda ainda de outro guitarrista que até então havia ficado mais em sua posição nos teclados: Adam Wakeman, além dos teclados, ele tocou muito bem sua guitarra. Mas isso tudo não seria suficiente se a pegada de Tommy Cufletos não dessem aquele ar pesado que Billl Ward aplicava nos anos 70.  Mais outro hit de seu primeiro cd solo e que não pode faltar em shows: Suicide Solution em uma versão bem rápida e não posso deixar de lembrar dos solos extremamente técnicos de Gus G. que foram acumulados nos seus anos a frente como líder da banda Firewind.

    Disse que Ozzy não tinha os aparatos técnicos de luzes, fogos, telões, cenografia de palco, etc. que vimos nas apresentações do Metallica, Iron Maiden, Rush, Bon Jovi ( por exemplo ) e tantas outras grandes atrações em São Paulo, mas o "Príncipe das Trevas" nos mostrou outro poder em suas mãos: o controle do tempo - pois ele transformou a noite do outono em uma sinistra noite e fez chover na Arena Anhembi quando quis. Na execução da linda balada Road To Nowhere ( do álbum No More Tears ) o tempo fechou mesmo em uma forte chuva. Isso diminuiu a animação de alguém? Muito pelo contrário, todos cantaram encharcados com o vocalista, viajaram nos solos de Gus G. e só não ligaram os celulares e isqueiros porque estes poderiam estragar na chuva. No final Ozzy gritou: "I´m Can´t Fucking Hear You" e emendou ao som das sirenes de um ataque aéreo, nada menos que War Pigs do álbum Paranoid do Black Sabbath com o riff apoteótico que serviu para intensificar ainda mais a nossa euforia no show em um dos melhores momentos da apresentação.

    Shot In The Dark, sucesso do álbum The Ultimate Sin de 1986, foi a seguinte e o seu fácil refrão foi novamente cantado por todos, no final Ozzy aproveitou e apresentou cada um dos membros de sua banda e depois se retirou deixando o comando do show para Gus G.  E o grego começou executar solos cheios de virtuosismo em sua guitarra. O substituto de Zakk Wylde tem muito talento, capacidade técnica, sabe disparar muitas notas por segundo e seu solo encantou a multidão presente de uma forma muito brilhante, mas tenho que comentar a diferença de estilo de Gus para Zakk - enquanto que o primeiro é formado na escola europeia, que é muito mais cheia de técnica e sua velocidade é mais voltada para o Power Metal; o segundo tem em seu estilo toda a roupagem Rock´N´Roll e Blues, e Zakk sempre deixou claro isso nos solos. Não que Gus tenha realizado um solo menos empolgante, mas a escola americana para solos de guitarra é sempre melhor, ainda assim, Gus G. interpretou trechos de 'Brasileirinho' e de 'Eruption' do Van Halen.

    Após o longo, rápido, pesado e espetacular solo de bateria de Tommy Clufetos que balançou muita gente que acompanhou nas palmas enquanto ele esmagava seu kit sem piedade, os 'meninos' da banda do Ozzy executaram sozinhos e primorosamente a instrumental Rat Salad ( mais uma do Paranoid do Black Sabbath ), enquanto o nosso caríssimo Ozzy Osbourne descansava e preparava sua voz para a conquista final de toda a Arena Anhembi.

    Quando Rat Salad estava terminando, Tommy Clufetos começou a dar pancadas em seus bumbos em um ritmo conhecido por todos nós e Ozzy voltou ao palco cantando Iron Man, imortalizada pelo Black Sabbath e recentemente trilha do filme do herói de mesmo nome. A recepção não poderia ser mais Heavy Metal: todos com os braços para cima com o sinal de Horns Up ( dedo indicador e mínimo juntos ) enquanto que outros davam socos no ar e cantavam a plenos pulmões com o 'Madman', que estava mais feliz que nós todos juntos neste show. Na hora do solo, além de Gus G. quem merece um grande destaque é Adam Wakeman com sua guitarra que solou bravamente enquanto Ozzy mais uma vez pegava seu jato de espuma para molhar a galera.

    O show seguiu com a emocionante I Don't Want To Change The World  ( do No More Tears ) e seus riffs de guitarra fez todos pularem com o vocalista que se movimentou bastante. Falei do álbum No More Tears, bem a música título do álbum não foi tocada nesta noite, e embora seja um clássico de muito sucesso aqui no Brasil, o set list foi tão perfeito, tão sincronizado que praticamente, quase, não sentimos falta dela, haja visto que a seguinte foi o hino Crazy Train e assim que seu solo inicial entrou destruindo com tudo. O que se via, se sentia, era todos pulando juntos com Ozzy e isso me leva afirmar: como é bom estar presente na execução de clássicos máximos do Heavy Metal. E assim foi encerrada a primeira parte do show.

    Esbanjando carisma, Ozzy fazia graça e ficava pedindo para nós gritarmos: " One More Song..." e eu e alguns amigos gritávamos "One More TEN Songs!!!", claro que não seriam tocadas mais dez músicas (  mas não custava tentar não é mesmo? ). Foi com a balada Heavy Mama, I'm Coming Home também do No More Tears que Ozzy retornou e fez todos cantarem com ele sem exceção em um momento de puro êxtase coletivo regado a solos de guitarra ( parabéns novamente Gus G. ) que marcaram o Heavy Metal desde 1991.

    Finalizando a apresentação de pouco mais de uma hora e meia com todas as glórias possíveis, Ozzy executou o sucesso Paranoid em uma interpretação cheia de garra que foi compartilhada também pela sua banda que tocou a música como se fossem as reencarnações dos membros do Black Sabbath para o deleite total de todos as gerações de headbangers presentes. No final, os músicos se reúnem no centro do palco, atiram palhetas e baquetas, saúdam os fãs, e se despedem de São Paulo. Tenha certeza caros leitores(as), que mesmo encharcados, cada um dos mais de 30.000 presentes na Arena Anhembi passaria por tudo novamente para rever Ozzy Osbourne. Conclamo vocês todos para agradecerem comigo a Sharon por conservá-lo em plena forma ( considerando todos os excessos que ele cometeu nestes anos todos ).

    Pareceu mágica: instantes depois do final do show, a chuva que castigou a maior parte da apresentação parou!!! Além de um show memorável, Ozzy fez chover e parar de chover!!! Alguém aí pode com o "Príncipe das Trevas" ?

    Vale lembrar que ele disse na coletiva de imprensa que não saberia se estaria vivo ao final da tour no Brasil. Analisando essa passagem cheia de vitalidade em São Paulo, tenho certeza que estará sim e em mais 2 ou 3 anos voltará aqui para realizar outro show arrebatador como o deste sábado. E te pergunto novamente caro leitor(a) e se ele cumprir a promessa voltar ao Black Sabbath e depois se apresentarem no Brasil, você estará no show?

Por Fernando R. R. Júnior
Fotos: Marcelo Rossi -T4F, Sérgio Klass - Revista Guitar World, Daigo Oliveira - G1, Ivan Pacheco - Terra

Agradecimentos a Juliana Siqueira, Regis Motisuki, Guilherme Oliveira, Carolina Lopes, Ricardo Zonta e a todos da equipe T4F
Abril/2011

 

Galeria de Fotos do Show de
 Ozzy Osbourne e do Sepultura

Set List:
1 -
Bark At The Moon
2 - Let Me Hear You Scream
3 - Mr. Crowley
4 - I Don't Know
5 - Fairies Wear Boots
6 - Suicide Solution
7 - Road To Nowhere
8 - War Pigs
9 - Shot In The Dark
10 - Rat Salad ( Drums & Guitar Solo )
11 - Iron Man
12 - I Don't Want To Change The World
13 - Crazy Train

Bis:
14 - Mama, I'm Coming Home
15 - Paranoid

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