Ultraphonix - Original Human Music
12 Faixas - Shinigami Records - 2019

    O Ultraphonix começou a tomar forma em 2017, quando o formidável guitarrista George Lynch ( Lynch Mob e Dokken ) convidou o baixista Pancho Tomaselli ( que já havia trabalhado com ele no veterano grupo de Funk War e também no projeto de Metal Experimental Philm, esse com a presença de Dave Lombardo ) e o baterista Chris Moore ( que já atuou junto com George Lynch no Project N-fidelikah e fez parte também do Cry Wolf e do Damage ).

    A sinergia instrumental entre os três foi imediata, mas, faltava ainda o vocalista e foi a estilista Leisa Balfour, que é amiga dos três músicos e lhes apresentou ao versátil Corey Glover. E o frontman do aclamado Living Colour voou de Nova Iorque para Los Angeles e lá ficou por dois meses, onde escreveu com os demais membros do Ultraphonix, as músicas de Original Human Music, onde a consciência social está fortemente presente.

    Curioso no line up deste verdadeiro supergrupo que é o Ultraphonix é que tanto Corey Glover quanto George Lynch são músicos que dispensam maiores apresentações e também são um gabarito tão grande que não precisam mais provar nada a ninguém, mas, ainda assim, eles talvez precisem provarem a si mesmos que podem criar um novo projeto que una Rock, Funk e Jazz com a imensa qualidade que demonstraram ao longo dos anos de suas respectivas carreiras.

    Na capa temos um corvo trajando uma camisa desenhada numa folha de papel junto a uma radiografia do mesmo, sendo bastante estranha esta colagem de imagens. Original Human Music foi gravado no Nightbird Studios em Sunset Marquis ( Los Angeles/Califórnia nos Estados Unidos ) e sua mixagem foi realizada por Bob Daspit ( Sammy Hagar ), que trabalhou na co-produção junto a George Lynch. Lá fora o disco foi lançado em agosto de 2018 e em 2019 chegou ao Brasil graças à parceria da Shinigami Records com a Earl Music.

    Sem muito alarde, apenas com a voz de Corey Glover e os solos fortificados feitos pelo guitarrista George Lynch ante a uma base pesada dos outros dois, Baptism abre Original Human Music em um Rock direto, envolvente e empolgado, que merece uma atenção aos solos do "Guitar Hero" do quarteto. De início calmo, Another Day é possuidora de uma linhagem espiritual nos vocais de Corey Glover e um andamento instrumental cativante, especialmente, nos emblemáticos solos feitos por George Lynch, que conferem uma beleza maior à música, que demonstra vários flertes com o Soul.

    A terceira é a Walk Run A Crawl e é a mais pesada desta trinca inicial de Original Human Music, seja nas variações notadas na voz de Corey Glover ou na elaborada parte instrumental, onde Ultraphonix alia sua robustez próxima de um Heavy Metal com Jazz criando uma canção única e minha candidata a hit. Com dedilhados no violão em uma linha mais rural, toques de baixo proeminentes e bateria variada, Counter Culture é a fusão do Country/Blues 'de fazenda' com o Jazz e o Heavy Metal da cidade, sendo que esta valiosa mistura rítmica te conquistará imediatamente.

     Em Heart Full Of Rain, o Ultraphonix nos coloca diante de uma emocionante composição tanto nos vocais de Corey Glover quanto nos dedilhados de George Lynch, que percorrem o Blues discretamente e em seu andamento sentimos uma aura bastante positiva para abrir um sorriso em sua audição. Para Free, os solos de George Lynch erguem-se e só não tomam conta da música porque o vozeirão de Corey Glover entra em cena e faz o contraposto à ele junto aos toques eficazes do baixista Pancho Tomaselli e do baterista Chris Moore enaltecendo a nobreza da música, tanto que me lembrou de alguns pontos do Led Zeppelin devido aos experimentalismos feitos na guitarra, que é solada livremente e amparada por uma base marcante de baixo e bateria até seu ritmo ser retomado.

    Wasteland já é a sétima de Original Human Music e prossegue com seu estilo experimental e de andamento viajante, porém, sempre com muito peso garantido nos precisos toques feitos pelo baterista Chris Moore, mas, o destaque fica para os solos de George Lynch em sua guitarra, que não parecem terem fim e nos fazem desejar fechar os olhos apreciar mais profundamente cada um deles, entretanto, não posso deixar de salientar também o jeito 'largado' de Corey Glover cantar seus versos.

   Depois de uma base voltada para o Funk e o Soul, que produzem um formato dançante em que o baterista Chris Moore se evidência com sua atuação, assim como o baixista Pancho Tomaselli tornando Take A Stand uma intrigante composição deste álbum, que salta de um estilo para outro com uma facilidade enorme e feita com tranquilidade, isso, óbvio é graças ao talento dos músicos envolvidos no Ultraphonix e ao jeito carismático que Corey Glover cantar seus versos te capturando facilmente. A estranha Ain´t Too Late é uma das mais pesadas do cd e alterna trechos falados com gritos em seu refrão, onde o suingue trazido pelo vocalista concede um contraste imenso à canção, o que a torna bastante desafiadora e não posso esquecer de enaltecer os toques feitos pelo baixista Pancho Tomaselli  repletos de técnica.

    Mergulhando no Jazz, particularmente no baixo e na bateria, Soul Control é comandada com louvor por Corey Glover, assim que ele começa a cantar seus versos, o seu ritmo instrumental fixa na sua cabeça por conter uma repetição marcante e com toques instrumentais virtuosos, que culminam em um refrão que fatalmente cantaremos juntos com o Ultraphonix em seus possíveis shows ou mesmo nas audições deste disco.

    Na sequencia chega a vez de What You Say, que vai evoluindo mais e mais a maneira que seus minutos vão passando em um Jazz Rock de muita energia em que novamente sentimos o comando do vocalista ao cantar seus versos. Para fechar, o Ultraphonix escolheu a esquisita Power Trip, porém, isso acontece apenas nas primeiras notas, porque depois esta última canção se transforma em uma música sem limites, que flui com muita habilidade em seu decorrer, principalmente pelos toques do baixista Pancho Tomaselli e do baterista Chris Moore até os dois liberarem George Lynch para brilhar em seu solo de guitarra e trazer Corey Glover novamente no clima inicial alternando os andamentos diferenciados magistralmente. Aliás, note os urros finais do vocalista e me fale.

    Original Human Music é um álbum totalmente desafiador em que o quarteto soube como poucos mesclarem estilos com o Jazz, Blues, Soul, Funk com o Heavy Metal e fecharem um discão, que é definido por George Lynch da seguinte forma: "O álbum soa como uma fusão de Red Hot Chili Peppers antigo com King Crimson e Judas Priest. É uma banda superdivertida."

    E embora este posicionamento de George Lynch seja uma excelente definição do que ouvimos em Original Human Music, acredito que a visão de Corey Glover sobre o disco é também deveras impactante de ser comentada aqui, confira: "Você ouve um pouco de mim e do George, ou do Pancho e do Chris, mas, a combinação de nós quatro juntos fazendo acontecer soa bastante particular. Não queríamos fazer uma música que não tivesse características bem definidas, mas também não queríamos fazer um disco do Dokken ou do Living Colour. Queríamos fazer algo que prestasse homenagem ao Dokken e ao Living Colour, mas, que seguisse em frente." E isso me leva a concluir sem discussões... eles conseguiram em um dos cd's mais interessantes que ouvi em 2019!!!
Nota: 10,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Novembro/2019

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