Ministry - Moral Hygiene
10 Faixas - Shinigami Records/Nuclear Blast - 2021

    Al Jourgensen - o líder e fundador da banda de Metal Industrial Ministry - usou sua música para lutar por direitos iguais, liberdade, além de expor políticos corruptos em seu país, os Estados Unidos da América. Durante a quarentena imposta por esta maldita pandemia de conornavírus, ele compôs em 2020 o álbum Moral Hygiene no seu Scheisse Dog Studio junto ao engenheiro de som Michael Rozon e a sua namorada Liz Walton, que participam em praticamente todas as músicas do disco.

    Este 15º álbum do Ministry banda originada em Chicago/Illinois em 1981 contém dez faixas centradas nos mais graves problemas da raça humana de nossa época como por exemplo, as mudanças climáticas ( aquecimento global é real ), as consequências das falsas conspirações e as tentativas de luta por igualdade racial e além de tudo isso, ele procura questionar a nossa atitude enquanto sociedade para tudo isso.

    De encontro à esta linha das suas letras, Al Jourgensen esclareceu: "A única coisa boa em tirar um ano de folga de qualquer atividade social é que você realmente pode se sentar e obter uma visão geral das coisas, em vez de ficar preso naquele momento".

    E prossegue o raciocínio dizendo: "e o que ficou inevitavelmente claro é que os tempos estão mudando e o ano passado foi um alerta, e isso foi uma coisa muito boa. Porque a sociedade, como a conhecemos nas últimas décadas, precisa mudar. Desde [o presidente] Reagan e a opulência da Wall Street, nos tornamos muito próximos da crença de que a ganância é algo bom. A sociedade realmente tomou um rumo bem sombrio e agora estamos colhendo os frutos dessa má orientação movida pela ideia de tudo gira em torno de mim e não de outras pessoas, de tomar conta apenas de si mesmo e foda-se tudo o resto. Agora, mais do que nunca, precisamos de Higiene Moral. É por isso que temos que voltar um pouco para trás a fim de aprender a funcionar como espécie humana neste planeta".

    Este novo Moral Hygiene sucede o aclamado Amerikkkant de 2018 ( considerado pela Loudwire como o discurso sobre o Estado da União de Al Jourgensen ) e como uma reação da chegada de Donald S. Trump ao poder, conforme o músico relata: "com AmeriKKKant eu fiquei em choque com a vitória de Trump. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que tinha que fazer algo. Porque eu acredito que se você é um músico ou um artista, você deve expressar o que está acontecendo ao seu redor por meio de sua arte. Isso vai acontecer, você fazendo isso de forma consciente ou inconsciente. Moral Hygiene, no entanto, progrediu ainda mais em uma advertência do que acontecerá se não agirmos. Há menos raiva, mas há mais reflexão e apresento alguns convidados para ajudar a consolidar esta narrativa".

    E apesar das mensagens sérias de Moral Hygiene, Al Jourgensen se declara mais positivo que antes ao afirmar: "isto pode parecer loucura, mas estou mais esperançoso em 2021 do que em pelo menos duas décadas, porque eu vejo as coisas mudando; as pessoas estão começando a ver através de toda a besteira e querem voltar ao decoro real na sociedade. Nós poderíamos apenas tratar bem os outros e ser bem tratados em troca. Eu nunca pensei que o Ministry estaria na posição de pregar os valores tradicionais, mas isto é ser rebelde agora".  

    Na capa de Moral Hygiene temos uma moça segurando uma bandeja no estilo dos anúncios dos anos 50 na América e desta vez com itens importantes e que parecem esquecidos pela humanidade, itens como "caixa de sanidade", "esperança enlatada" e "opiniões liofilizadas" em uma criação de Billy Morrinson ( que integra o Royal Machines e a banda do cantor Billy Idol ). O processo de mixagem foi realizado por Al Jourgensen e Michael Rozon enquanto que a e masterização é de Dave Donnely e feita no DNA Mastering.

    E antes de comentar as faixas de Moral Hygiene vale enfatizar que Al Jourgensen convidou vários ilustres músicos para o álbum que serão citados ao longo desta resenha, mas o line up base do Ministry é o seguinte: Al Jourgensen ( vocais, guitarras, teclados, programações, gaita e bandolim ), John Bechdel ( teclados ), Cesar Soto ( guitarra e backing vocals ), Paul D'Amour ( baixo ), Roy Mayorga ( bateria ) e Monte Pittman ( guitarra ).

    Os breves sinais de vozes trazem Alert Level, a canção de abertura de Moral Hygiene com Al Jourgensen cantando com indignação na voz ante à uma base pesada com os efeitos costumeiros de seu Metal Industrial, onde a bateria é comandada por Roy Mayorga ( que já tocou com o Soulfly, Stone Sour e Channel Zero ). Depois, na estranha Good Trouble, ele questiona a liberdade de expressão e as manifestações contra violência policial em levadas que ganham força à maneira que seus minutos passam.

    Com a presença de Jello Biafra ( ex-Dead Kennedys ) nos vocais e Al Jourgensen junto a Cesar Soto nas guitarras, o Ministry segue o cd com a caótica Sabotage Is Sex, que também levanta a questão racial e o caso de George Floyd, que foi assassinado pela polícia e a inclusão da frase "I Can´t Breathe" não será mera coincidência. Este tema foi exibido na sua letra através de uma roupagem instrumental robusta e muito interessante.

    Salientando as mentiras ( ou fake news ) que nos são empurradas diariamente como verdades, temos Disinformation, cujo lado Industrial se faz presente tornando a canção diferenciada ao som que costumamos ouvir, porém, com uma letra atual e totalmente aplicável à realidade destes últimos anos, seja no Brasil ou lá fora e para Al Jourgensen ( e todo mundo que pensa livremente um pouco ): "A solução para desinformação não é surtar, mas buscar pelas notícias em fontes confiáveis e pensar criticamente a respeito de tudo que você ouve", conforme dito por ele nos versos da canção. A encorpada e cadenciada Search and Destroy traz como convidado o ex-Megadeth ( e atual Dieth ) David Ellefson no baixo, além de Billy Morrison na guitarra enquanto que Al Jourgensen canta liberando toda sua raiva em meio aos efeitos industriais que incluíram na versão da composição do The Stooges.

    Depois ainda com David Ellefson no baixo atuando notavelmente temos Believe Me ( com letra centrada na complicada eleição americana de 2020 em que muitos erroneamente contestam o seu resultado ), que chama a atenção nos toques de violão em seu andamento, que faz esta sexta canção de Moral Hygiene soar interessante aos padrões do Ministry culminando em um final surreal, que se interliga com algumas vozes ao fundo em Broken System, faixa que Al Jourgensen está mais embrutecido e nos convoca a agir e salvar o planeta embalado por um ritmo pulsante, constante e devidamente fortificado. Mergulhando definitivamente no lado Industrial, Al Jourgensen apresenta We Shall Resist, que é praticamente um discurso e uma verdadeira conclamação para que nós resistamos à esta ascensão de líderes que flertam com o fascismo no mundo enfrentando estes novos opressores.

   Para Death Toll, a nona e penúltima de Moral Hygiene, Al Jourgensen vai ao Hip Hop pesado com muito peso metendo o dedo na ferida detonando inaptidão da América ao lidar com a Covid 19 ( aliás, inaptidão essa que vimos também em uma certa nação abaixo da linha do Equador ), que resultou em mais de um milhão de mortos, mais baixas que várias guerras somadas que o Estados Unidos se envolveu ao longo dos anos. Fechando o disco a reforçada, cheia de remixagens e efeitos eletrônicos diversos TV Song#6 ( Right Around The Corner Mix ) com o vocalista exalando muita fúria a cada vez que grita seu quase único verso.

    Como sempre o líder do Ministry tem o que dizer em seus trabalhos e, ele está muito aborrecido, como percebemos neste Moral Hygiene, que aborda temas fundamentais para o futuro como os citados e Al Jourgensen aborda essas questões muito bem através de seu Metal Industrial. Se você caro leitor(a) do Rock On Stage não for fã do estilo, saiba que vale ouvir este disco por conta das importantes questões sociais presentes.
Nota: 8,0.

Por Fernando R. R. Júnior
Agosto/2022

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