Heaven Shall Burn - Wanderer
12 Faixas - Shinigami Records - 2017

    A bela paisagem com montanha, planície e beirando um calmo lago ( ou oceano ) da capa do cd Wanderer ( capturada pelo fotógrafo Christian Thiele ), o oitavo álbum de estúdio dos alemães de Enfurt, que formam o Heaven Shall Burn desde 1996 ( embora o nome atual só tenha sido adotado dois anos depois ), de certa forma escondem o Death Metal e Metalcore que vamos encontrar nas doze faixas compostas por Marcus Bischoff nos vocais, Maik Weichert e Alexandre Dietz nas guitarras, Erick Bischoff no baixo e Christian Bass na bateria.

    A produção de Wanderer é assinada por Alexander Dietz em parceria com Maik Weichert e suas gravações aconteceram no Chemical Burn Studios em Bad Kösen na Alemanha, exceto apenas pela bateria, que foi registrada em Hamburgo, também no país natal da banda. Os processos de mixagem e masterização ficaram por conta de Tue Madsen e foram realizados concluídos no Chemical Burn Studios em Bad Kösen na Alemanha e no Ant Farm Studios em Aarhus na Dinamarca.

    Antes de comentar das faixas de Wanderer, quero incluir aqui a citação do release: "em tempos confusos e problemáticos, ocasionalmente você deve se distanciar de toda a loucura que o rodeia. Isso faz que você ganhe uma nova perspectiva, energia e foco para enfrentar essas mudanças com uma mentalidade renovada e fortalecida. A vida moderna se tornou tão complexa que às vezes escolher a simplicidade e a solidão pode dar-lhe força para conquistar o caos ao reder e dentro de você".

    Acredito muito nisso e muitas vezes costumo me deitar ( ouvindo um som, lógico ) para relaxar, me isolando do mundo para depois sentir a energia, a garra e a vontade de enfrentar os problemas retornar com força. Afinal, simplicidade e a solidão podem serem os melhores companheiros, e isso, ainda pode significar uma abstração maior, ou seja, uma viagem ao nosso interior à procura de uma forma de escapar de toda a agressividade e maldade que nos atinge no dia a dia e o Heaven Shall Burn está aí para nos direcionar com este Wanderer.

    A primeira recebeu o título de The Loss Of Fury e narra os problemas que podem serem causados quando perdermos a nossa fúria interior e nos conformamos com as situações. Isso é mostrado com dedilhados viajantes, que trazem os vocais encolerizados de Marcus Bischoff em um ritmo denso, pesado e cadenciado, inerente à um Death Metal Melódico dos bons, que pouco depois se conectam na raivosa Bring The War Home, cuja letra é sobre um jovem enviado para a guerra para proteger sua família, entretanto, quem mais precisa dele seriam seus familiares em casa, alguma semelhança com o mundo atual? Não.... imagine... isso é um delírio explorado pela imprensa!!!! E o Heaven Shall Burn detona um andamento impactante, harmonizado com robustos solos de guitarras, uma condução pesada na bateria e vocais urrados em diversas camadas.

    Em Passage Of The Crane, que começa mais lenta até o primeiro urro de Marcus Bischoff, os alemães contam a história de Sadako Sasakis em linhas que alternam Heavy Metal com seu implacável Death Metal em uma composição devidamente caótica e convidativa para banguear, onde notamos breves incursões de vocais femininos de Katharina Radig, que contrastam com a linha fortificada da música.

    Bem emblemática por seu carregado ritmo inicial They Shall Not Pass, onde destaco os solos de guitarras de Alexander Dietz e Maik Weichert, que ambientam para que Marcus Bischoff com violência urre os versos que contam sobre a Batalha de Cable Street, ocorrida em Londres em 1936, envolvendo o líder fascista Mosley e seus seguidores ( os camisa negras ) contra os moradores do bairro East End, vencida - ainda bem - pelos últimos. O andamento de They Shall Not Pass destaca passagens mais melódicas em algumas partes, que ajudam a manter atenção em cada trecho da música.

     Para Downshifer, o baterista Christian Bass ( substituto de Matthias Voight, um dos fundadores do Heaven Shall Burn ) e estreante em estúdio com o Heaven Shall Burn, martela seu kit com precisão em mais uma outra explosiva e furiosa canção de Wanderer, onde sua letra é sobre um recuo estratégico para posteriormente realizar um ataque certeiro e assim, vencer os problemas, algo muito bem explicitado no ritmo aniquilador da canção. Prey To God entra veloz e dilacerante disposta a massacrar mesmo, além de evidenciar a participação de George "Corpsegrind" Fischer do Cannibal Corpse junto a Marcus Bischoff nos vocais na mais revoltada faixa de Wanderer, que expressa a manipulação feita por religiões colocando as pessoas em guerras.

    Com sons de vento e dedilhados a curta e bela instrumental My Heart Is My Compass faz a introdução para a arrastada e quase Doom Save Me, porém, temos aqui uma música totalmente furiosa e impiedosa em seu decorrer demonstrando através de uma letra em que mesmo com a ajuda dos amigos, ninguém pode salvá-lo de si mesmo e com as recentes e tristes mortes de Chris Cornell e Chester Bennington temos exemplos reais de como isso é verdadeiro, mas, acrescento aqui, se perceberes algo assim em um amigo, procure tentar ajudá-lo. Nos solos de Save Me, Nick Hipa ex-As I Lay Dying participa ao lado de Alexander Dietz e Maik Weichert para detonar ainda mais com nossas cabeças.

    Com o sinal emitido pelo contador Geiger ( que mede a radioatividade de um lugar ou material ) Corium entra consideravelmente fortificada por conta de sua linhagem instrumental e nos exibe ótimas melodias de guitarras em um estilo mais violento retratando uma letra sobre como é realizada a mistura do Cório, obtido somente através da fusão nuclear ( que ocorreu apenas três vezes fora do laboratório e isto marcou a irresponsabilidade da indústria nuclear ).

    Com uma empolgante sequencia na bateria de Christian Bass, a voraz Extermination Order é urrada com muita cólera por Marcus Bischoff criticando o genocídio que aconteceu nas cidades de Nama e Hetero na antiga colônia alemã no sudoeste da África, onde hoje é a Namíbia em que o governo alemão não indenizou as famílias dos descendentes.

    A rápida A River Of Crimson conta é sobre a batalha enfrentada pelo filho de um amigo da banda contra a temível doença chamada leucemia pela segunda vez em sua vida e sua letra com ritmo pesado nos moldes estruturados pelo Heaven Shall Burn é sobre o sangue e a sua importância para a nossa saúde. No encerramento de Wanderer temos o cover para The Cry Of Mankind do My Dying Bride com a presença do convidado e Aðalbjörn Tryggvason do Sólstafir dividindo os solos de guitarras com Maik Weichert e Alexander Dietz em uma canção sombria e mais lenta, onde tenho que enaltecer também o baixista Eric Bischoff ( assim como no resto do álbum ) por sua atuação sempre competente.

    Pesado e com melodias, urrado e com letras de importantes temas atuais, dotado de faixas envolventes e furiosas, enfim, o Heaven Shall Burn nos coloca diante de um dos melhores álbuns de sua carreira com este Wanderer, marca uma esperança para o futuro do Heavy Metal e não foi por acaso que foram escolhidos pelo próprio King Diamond para abrir seu show no Liberation Festival no Espaço das Américas em São Paulo/SP no dia 25 junho de 2017 para desespero dos que não conhecem a banda e a menosprezam.
Nota: 9,5.

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Por Fernando R. R. Júnior
Novembro/2017

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