Deep Purple - California Jam 1974
 DVD - 8 Faixas - Shinigami Records - 2016

    Em 1974, os britânicos do Deep Purple já eram considerados como uma das mais importantes bandas da história do Rock ao lado de nomes como Led Zeppelin e Black Sabbath, bem como apontados também como um dos inventores do Heavy Metal, também pudera com álbuns como In Rock ( 1970 ), Fireball ( 1971 ), Machine Head ( 1972 ), Made In Japan ( 1972 ) impondo o respeito e alcançando o mundo com suas inesquecíveis músicas. Porém, estes foram criados e gravados com a chamada MK II da lenda inglesa, ou seja, Ian Gillan nos vocais, Roger Glover no baixo, Ian Paice na bateria, Jon Lord nos teclados e Ritchie Blackmore na guitarra. Acontece que por conta de desavenças com o "todo poderoso" guitarrista ainda em junho de 1973, Ian Gillan e Roger Glover deixam a banda.

    Como o show não pode parar foram recrutados por ele os jovens Glenn Hughes no baixo e David Coverdale nos vocais se unindo ao três remanescentes marcando o início da MK III do Deep Purple, que se provou tão boa quanto ( e para muitos melhor ) que a anterior. Ao lançar seu primeiro álbum - que foi nomeado como Burn em abril de 1974 - tivemos a inclusão de mais outros clássicos como "Burn", "Mistread" e "You Fool No One" ( citando apenas três, pois, o álbum inteiro é sensacional ) nas fileiras das melhores músicas da banda em todos os tempos.

    No sábado 6 de abril de 1974, o Deep Purple apresentava ao público presente no circuito Ontario Motor Speedway no festival California Jam no Estado da Califórnia nos Estados Unidos ( utilizado em provas da Nascar e Fórmula Indy ) seus dois novos integrantes diante de 250.000 fãs em um festival, que contou também com os não menos importantes Emerson, Lake & Palmer, Black Sabbath, Eagles, Black Oak Arkansas, Earth Wind & Fire, Seals & Crofts e Rare Earth. Neste DVD lançado no Brasil pela Shinigami Records temos a magnífica apresentação do Deep Purple no California Jam de 1974 restaurada em alta definição, sendo este evento um equivalente em público ao Woodstock para os fãs de Hard Rock e Heavy Metal, ou seja, é item de colecionador.

    Nas primeiras imagens vemos o avião e os ingleses se dirigindo para o festival, que não tinha um palco de grandes dimensões para um evento de tamanha grandeza, mas, eram os anos 70 e adereços de hoje como grandes telões e toda a mega-produção não eram o foco, apenas o som e no mais alto volume. Próximo ao início da noite daquele calorento sábado, eles começam o show com Burn, onde os 'novatos' David Coverdale e Glenn Hughes literalmente inflamavam com seus vocais ante a sensacional base pesada dos demais músicos.

    Neste show já era possível ver como eram fortes os agudos de Glenn Hughes, que impressionam até hoje e também como ele tocava seu baixo com naturalidade no palco. O maestro Jon Lord exibia mais outra atuação de gala conferindo uma incomparável beleza à música. Aliás, toda essa eletricidade já havia sido aumentada por conta de um desentendimento com a produção do evento, que levou este show se tornar ainda mais histórico como contarei mais abaixo.

    A segunda do set foi Might Just Take Your Life, onde teoricamente os recém contratados pareciam estarem aparecendo mais, especialmente Glenn Hughes, que cantava sozinho alguns trechos e sempre participava nos backing vocals com David Coverdale. Mas, bastava olhar para Jon Lord e notar o que ele fazia em seus teclados para "arregalar os olhos" e perceber que o Deep Purple não foi o que era ( e ainda é ) à toa.

    Depois, Glenn Hughes anuncia Lay Down, Stay Down, um Rock'n'Roll vibrante, que mostrava ao público que a pegada do quinteto estava tão feroz quanto antes. Glenn Hughes e David Coverdale chamam a atenção ao lindo por do sol enquanto que Ritchie Blackmore com sua guitarra executa os soberbos solos calcados no Blues de Mistread, canção que David Coverdale canta seus versos entregando sua alma para os fãs. Nesta já sentimos as primeiras improvisações aparecerem e como Ritchie Blackmore comanda o show com sua lendária Fender Stratocaster bege e branca.

    Jon Lord vai ao microfone e apresenta Glenn Hughes e David Coverdale para a multidão, sendo que logo em seguida Ritchie Blackmore brinca com sua guitarra e a leva até aquelas notas que quem gosta de Heavy Metal tem obrigação de conhecer... aquelas contidas em Smoke On The Water ( do fundamental Machine Head ) e com os dois então novos vocalistas dividindo seus versos e assistir isso no vídeo é fabuloso. No decorrer da música, mais precisamente durante os solos de teclados de Jon Lord, Glenn Hughes 'solta a voz' em um improviso mais voltado ao Funk de puro 'feeling' e magia para que David Coverdale reassuma o comando e finalize a canção.

    Novamente com os holofotes postados em Jon Lord e seus teclados vemos ele passear suas hábeis mãos na longa introdução de You Fool No One com solos surreais, que trazem a esta robusta criação do Deep Purple as vocalizações primorosas de David Coverdale, onde você deverá reparar com atenção nos solos de Ritchie Blackmore em sua guitarra em uma real definição de Heavy Metal, que atravessa um trecho em que um emocionante Blues e uma sessão de improvisos eclodem até que eles retomem o ritmo da música.

    Aliás, ritmo que recebe um solo fenomenal de Ian Paice em sua bateria e olhando este DVD você tem certeza porque seu nome será sempre lembrado como um dos melhores bateristas de todos os tempos em uma noite em que até a Lua conferiu o solo.

    Quando os demais juntam-se a Ian Paice temos a execução de The Mule ( do Fireball ) com o 'regente' Ritchie Blackmore terminando a canção. Enfim, um momento ímpar deste incrível California Jam.

    Porém, a 'piração' total do show ficou reservada para a última, a estonteante Space Truckin' ... primeiro com os esplêndidos repiques de bateria de Ian Paice e os solos de teclados de Jon Lord, que exibem a pesada canção do Machine Head. Durante os muitos improvisos, Glenn Hughes canta alguns trechos enquanto toca seu baixo, faz algumas improvisações e devolve para David Coverdale 'terminar' os versos originais da canção, porque aí meu amigo(a), Jon Lord faz a viagem instrumental se aprofundar em seus teclados com linhas fantasmagóricas.

    O "chefe" Ritchie Blackmore começa a solar sua Fender Stratocaster aumentando exponencialmente a viagem a que seremos submetidos - a qual posso dizer em uma alusão para a letra da música que é interplanetária - com direito a Jon Lord retomando seus solos nos teclados produzindo um ritmo encorpado, que é sustentado pelos toques no baixo de Glenn Hughes e pelo incansável Ian Paice em sua bateria.  

    Na sequencia, Ritchie Blackmore posta-se mais à frente do palco para enfeitiçar todos aqueles milhares de fãs com as notas de sua guitarra e posteriormente alucinar com seus inigualáveis solos, que chegam à insanidade, pois, o temperamental guitarrista - que estava furioso com a organização pelo fato de terem pedido para que o Deep Purple tocasse mais cedo que o horário inicialmente programado - faz de tudo com seu instrumento ( gira, ergue, esfrega nas pernas ) até quebrá-la em uma câmera em uma atuação furiosa, anos antes de qualquer Punk pensar nisso e a arremessa na plateia. Não contente, ele pega outra guitarra toca-a com os pés e incendeia uma caixa de som para completo desespero dos organizadores e da equipe de palco.

     Ensandecido e ainda não feliz com o que estava fazendo ( veja o que dá provocar o guitarrista naqueles loucos anos 70 ), ele joga caixas de som no fosso e os demais músicos mantiveram a velocidade e o peso intactos o tempo todo em um dos mais marcantes shows da história. Reza a lenda que depois disso, os músicos do Deep Purple tiveram que fugir do Ontario Motor Speedway de helicóptero para não serem presos pela polícia e autoridades locais, pois, os prejuízos causados com a quebra de equipamentos eram maiores que o cachê que seria recebido pela banda na ocasião.

   Como bônus neste California Jam 1974 temos um vídeo em Super 8, que é quase um documentário do festival e até então inédito com algumas cenas de bastidores e imagens de outros pontos do palco, além do encarte com muitas fotos, informações e um texto de Geoff Barton.

    Passados 43 anos da realização deste show, ele ainda é capaz de impressionar quem assiste e será lembrando da seguinte forma por nós e pela banda, conforme consta no release: "Foi um instante no tempo para todos nós. Foi uma grande declaração do que era o Rock naquela era pré-MTV. E também um grande testemunho da formação MKIII. É grande, é grandioso, é Funky, é Rock... é o MKIII em todo o seu esplendor." Agora temos este registro lançado de forma oficial nas mãos, que se você não viu caro leitor(a), trate de assistir o quanto antes, pois é extraordinário.
Nota: 10,0.

Sites: http://www.deeppurple.com/http://www.deep-purple.com e https://www.facebook.com/officialdeeppurple/.

Por Fernando R. R. Júnior
Julho/2016

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