Tupi Nambha - Invasão Alienígena
6 Faixas - Independente - 2017

    Quando os portugueses chegaram na terra de Santa Cruz, que posteriormente ficou conhecida como Brasil e dizimaram os nativos daqui, estes certamente consideraram que sofreram uma verdadeira Invasão Alienígena, sendo que este nome ficou deveras adequado ao título do primeiro EP dos brasilienses do Tupi Nambha, cuja própria rotulação é de Tribal Metal, algo próximo de um Folk Metal baseado na riqueza cultural, instrumental e musical dos índios brasileiros. Seus integrantes são Marcos Loiola nos vocais e Rogério Delevedove na guitarra, que juntos ao produtor Caio Cortonesi ( do Dynahead ) realizaram as gravações, mixagem e masterização de Invasão Alienígena no Estúdio Broad Band.

    E o Tupi Nambha mergulhou tanto na cultura dos nossos legítimos antepassados, que o EP possui suas letras e consequentemente, seus vocais, no idioma Tupi antigo e para isso, eles tiveram a ajuda ( na parte de pesquisa ) do tupinólogo Eduardo de Almeida Navarro. Outro ponto que ressalta bem a visão dos índios com os colonizadores portugueses está na capa do cd, que retrata o momento em que eles chegaram aqui de forma nada amistosa no desenho de João Rafaele da Fabula Ilustrações em um excelente trabalho. Vamos às canções.

    A faixa título Invasão Alienígena abre o EP com um ritmo mais cadenciado e tenso com os vocais, conforme disse anteriormente, em Tupi Guarani antigo e em uma primeira impressão... ouvir sua letra cantada desta forma é bastante diferente de tudo que você já ouviu antes, outro ponto a ser mencionado é a forma que eles tocaram a bateria e a percussão nesta primeira canção. Depois em Antropofagia notamos um início um tanto viajante, que logo dá lugar a um andamento mais agressivo e robusto, sempre enfatizando a carregada bateria e percussão, consideravelmente tribal e regional mesmo, só que agora com a guitarra de Rogério Delevedove mais em evidência e exalando vocais mais raivosos. Para Tribo em Guerra, o Tupi Nambha atacou com uma faixa cadenciada e fortificada exibindo um ritmo mais propício à um combate, que atravessa diversas camadas, onde são necessárias várias audições para compreender a diversidade musical aplicada. O mais interessante é que eles souberam como fazer a canção te pegar, mesmo soando um tanto que diferenciada ao padrão que estamos mais acostumados.

    Na faixa que empresta seu nome ao duo, a Tupi Nambha é mantido o peso em linhas cadenciadas e também com vocais agressivos combinando quase sempre a distorção na guitarra com as pancadas na bateria. Na viola caipira tocada de uma forma consideravelmente inesperada e com uma percussão marcante de vários ritmos regionais como Baião e até Samba, Galdino Pataxó é a quinta de Invasão Alienígena e suaviza um pouco o peso das anteriores, mas, os vocais de Marcos Loiola, agora limpos, tornam o ponto mais intrigante da composição.

    Com a guitarra enviando notas mais encorpadas junto a sempre fortificada percussão, Feiticeiro deixa uma linha colérica e crua em seus vocais, que fazem a faixa ser mais sinistra em seu decorrer. No encerramento de Invasão Alienígena temos a Yahuasca, onde os toques percussivos continuam robustos e seu ritmo é um tanto mais rápido, porém, sempre com doses de revolta nos vocais, que são novamente despertadores de uma maior atenção.

    Invasão Alienígena marca a estreia de uma ousada dupla, que mesclou a potência de seu autoproclamado Tribal Metal com ritmos indígenas e não se contentou apenas com isso, pois, foi além ao cantar no idioma nativo de nossa terra, entretanto, como uma mistura deste nível é muito fora do padrão que estamos acostumados a ouvir, para absorver melhora a proposta do Tupi Nambha serão necessárias várias audições do EP, que agora junta-se ao Arandu Arakuaa ao cantar neste idioma, que faz um resgate de nossa origem. Aliás, vale ressaltar que tanto o Tupi Nambha quanto o Arandu Arakuaa participam ao lado do Voodoopriest, do Armahda, do Hate Embrance, do Tamuya Thrash Tribe e outros do movimento brasileiro chamado de Levante do Metal Nativo.
Nota: 8,0.

Site: http://www.tupinambha.com.br/,
Facebook: https://www.facebook.com/TupiNambhaOficial,
Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=568MR6CkMMo&t=491s,
Bandcamp: https://tupinambha.bandcamp.com/.

Por Fernando R. R. Júnior
Janeiro/2018

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