Unearthly - The Unearthly
11 Faixas - Shinigami Records - 2014

    Com 17 anos praticando um dos mais técnicos, agressivos e blasfêmicos dentre os nomes do Black Metal Brasileiro, os cariocas Unearthly chegaram em 2014 ao seu quinto cd de estúdio, cujo título é The Unearthly ( e o sétimo da carreira, que conta também com o DVD Baptizing The East In Blood – Live At Voronezh, Russia de 2013 ). Este petardo foi gravado no Estúdio AM no Rio de Janeiro/RJ entre abril e junho de 2014 por Fernando Campos, Felipe Eregion, Luiz Fretag e Flávio Fox Barros. O processo de mixagem foi realizado pelos citados Fernando Campos e Felipe Eregion, enquanto que a masterização é de George Bokos, ex-Rotting Christ no Grindhouse Studio em Antenas, na Grécia.

    Desta vez, Felipe Eregion nos vocais e guitarra, M. Mictian no baixo, Vinnie Tyr na guitarra e Braúlio Dummond na bateria nos trazem onze macabras canções devidamente empaladas em um slipcase de luxo, que enaltecem o prazer em possuir o trabalho em formato físico, cuja capa é assinada por M. Mictian e Felipe Eregion.

    Com as evoluções feitas por Braúlio Dummond em sua bateria, The Sin Offering abre The Unearthly de forma mais cadenciada e com os urros vocais infernais de Felipe Eregion, que somados ao ritmo proposto exibe um feroz Death/Black Metal, que recebem Felipe Chechuan, vocalista do Confronto para uma destruidora participação. Depois do soco inicial, a horda carioca executa a pedrada The Confidence Of Faith e eleva bastante os níveis de violência, seja nos furiosos e blasfêmicos vocais, nos solos de guitarras ou nas bordoadas na bateria, de forma que o fã tenha vontade de sair batendo a cabeça.

     Com batuques de samba, que lembram o candomblé ou umbanda ( isso mesmo, você não leu errado ), Eshu entra com muita cólera nos vocais em português ( uma novidade em se tratando de Unearthly ) com a presença de Felipe Eregion em meio a 'triggers' matadores do baterista Braúlio Dummond e muitos riffs incendiários de guitarras. E mesmo na nossa língua natal, o vocalista mostrou que é possível cantar com extrema raiva cada verso e se sair muito bem, tanto que os fãs do Sepultura antigo irão perceber aquela pegada destruidora e crua com ritmos tipicamente brasileiros, que os mineiros fizeram nos tempos dos primeiros discos.

    Com uma linha de guitarras mais rápida e toda a ira do vocalista chega a vez da faixa título do cd, a The Unearthly, que entra quebrando tudo em evoluções típicas dos Black Metallers, que foram fundidas com todo ódio possível do quarteto carioca, seja nos riffs ou nas mudanças de andamento.

    Em Agens Mortis, Braúlio Dummond assume com os 'triggers', 'blast beats' e pedais duplos o destaque inicial entre muitos riffs explosivos de guitarras nesta assustadora sexta faixa, que conta com vocalizações em latim em alguns trechos que a deixam ainda mais 'do mal', especialmente na parte em que ouvimos alguns vocais femininos de Maria Fernanda Cals ( do Indiscipline ).

    A instrumental Chant From The Unearthly Rites, mesmo com dedilhados mais calmos e uns 'aaaaah' passou uma aura 'sabática' na mesma linha que os ingleses faziam questão de registrar em seus álbuns dos anos 70. Quando essa linha se une a tambores africanos estamos em Where The Skys Bleeds In Red, cuja inspiração de sua letra foi no personagem real da história brasileira, o beato Antônio Conselheiro, que levou todas as pessoas que viviam em Canudos à uma revolta contra o país e uma dizimação total, e detalhe, eles queriam apenas que o governo lhes dessem melhores condições de vida. Para ilustrar a música, o Unearthly exibiu uma atormentada composição que vai ganhando em peso, cólera, urros e muitos 'triggers' à maneira que seus minutos vão passando sempre com muita violência. Entretanto, uma grata surpresa são os excelentes solos de guitarras de Felipe Eregion e Vinnie Tyr ao fundo.

   Com o baixista M. Mictian desferindo ótimos toques junto à dupla de guitarristas, a cadenciada The Dove And The Crow continua com The Unearthly em um misto de urros e linhas melódicas de guitarras em uma letra inspirada no livro Fogo e Gelo de George R. R. Martins. Recomendo você atentar seus ouvidos para o solo de guitarra final que pendeu bastante para o Heavy Metal, e desta maneira, sem que se perceba, a seguinte, From Womb To Reborn apresenta um andamento cadenciado aniquilador, que é vocalizado com guturais sombrios e deixa bem claro uma coesão instrumental bastante forte, que sustentam muito bem esta nona faixa.

    Novamente com dedilhados mais calmos, que em poucos instantes tornam-se um impetuoso Black Metal, The Fire Of Creation relembra do que a banda fazia em seus álbuns anteriores ao misturar toda a maldade de sua parte instrumental com linhas melódicas em boas inversões de ritmos, além de riffs e 'triggers' matadores com trechos falados e vocais assustadores no mais puro e feroz gutural.

    A derradeira de The Unearthly - Aisle To Everlasting - aparece com uma linha veloz e caótica, que está pronta para devastar tudo, seja nos urros proferidos por Felipe Eregion ou nos 'blast beats' de Braúlio Dummond em meio a incansáveis solos da dupla de guitarristas. Entretanto, para coroar tanto o final desta música quanto do cd, eles aplicaram esmagadoras mudanças de andamento.

      Não é por acaso que The Unearthly tem sido apontado com um dos melhores discos de Black Metal de 2014, pois além do excelente encarte com cada letra comentada, da excelente e cuidadosa produção, temos aqui um artefato que muitas almas negras fãs do Unearthly devem conhecer. Em suma, temos no Brasil um dos grandes nomes do estilo e que levará seu nome ainda mais pelo mundo. Parabéns Shinigami Records por acreditar na banda mais uma vez.
Nota: 9,5.

Site: www.unearthly.com.br, www.myspace.com.br/nyearthlycommando
e https://www.facebook.com/unearthly.official.


Por Fernando R. R. Júnior
Dezembro/2014

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