Torture Squad - Esquadrão de Tortura
11 Faixas - Substancial Music - 2013

    Devidamente consolidado como uma das maiores instituições do Heavy Metal Brasileiro, o Torture Squad lançou em 2013 o seu sétimo disco de estúdio com o provocante título de Esquadrão de Tortura, que além de ser a tradução do nome da banda, o álbum conceitual retrata também os grupos paramilitares que foram responsáveis pelo "sumiço" de muitas pessoas nos chamados Anos de Chumbo de nossa história.

    O lançamento da Substancial Music se deu em um luxuoso pacote com uma capa em formato de luva, um encarte que se torna um mini-poster com as letras das músicas e mais um outro encarte que explica o porque do título e das letras, pois se referem a qual fato histórico ela pertence, ou seja, temos aqui um item de colecionador mesmo. E isso proporcionado com a categoria que Amílcar Cristófaro ( bateria e percussão ), Castor ( baixo, fretless e vocais ) e André Evaristo ( guitarra e vocais ) possuem nestes mais de 24 anos de Death/Thash Metal de altíssimo nível. É e este trabalho marcou o primeiro após a saída de Vitor Rodrigues dos vocais da banda.

    Para a produção, além do trio, Adriano Daga e Brendam Duffey realizaram as gravações, mixagem e masterização no Norcal Studios em São Paulo/SP entre abril e agosto de 2013. A data oficial do lançamento foi em pleno 15 de novembro de 2013, que comemoramos a Proclamação da República. E quem assina a arte gráfica de Esquadrão de Tortura é João Duarte da J. Duarte Design ( que já assinou capas do Machinage, Headhunter D.C., Metal Church, Woslom e muitos outros ).

    A primeira é a instrumental Conspiracy, que marca o "Dia da Vergonha" no Brasil, o conhecido 1º de Abril de 1964 quando o Golpe Militar foi dado e o som apresenta uma velocidade típica e cheia de habilidade do Torture Squad, que se liga a No Scape From Hell, que narra com seus vocais raivosos e com uma forte pegada Thrash de baixo, bateria e guitarra como foi idealizado e "vendido" para a sociedade o golpe. O trio nos manda evoluções espetaculares, que conquistam instantaneamente e já me fizeram imaginar esta música ao vivo. Continuando o cd recebemos a pancada de Pull The Trigger, que nos conta como os militares utilizaram a "ameaça comunista" em 1968 para limarem os direitos do povo ( além de muitas torturas ) em linhas instrumentais frenéticas e extremamente intensas, cuja sensação ao ouvir é de sair batendo a cabeça com seus riffs de guitarra e seus vocais irados, e isso, sem contar com o massacre que ouvimos na bateria.

    Com a presença de João Gordo ( do Ratos de Porão ) nos vocais, Pátria Livre exibe uma virtuosa e rápida sequencia instrumental juntos a uma breve letra em português com versos do poeta brasileiro Carlos Marighella. Para relembrar da batalha entre estudantes instigada pelo Doi-Codi na Rua Maria Antônia no centro de São Paulo em outubro de 1968, a cadenciada no seu início e caótica no decorrer Wardance surpreende o fã e o faz empolgar com o som na hora, pois sua parte instrumental, que recebe o guitarrista Rafael Augusto Lopes ( ex-Torture Squad e atual Fanttasma ) está deveras exuberante, pesada, cadenciada e até, pasmem, melodiosa em alguns trechos. O Torture Squad se superou.

    A seguinte é a Architeture Of Pain e conta sobre o famigerado Ato Institucional nº5 ( ou AI 5 ), que começa explicando quais os motivos alegados para instauração de tal medida sendo explanados por um pelo Ministro da Justiça Gama e Silva do governo militar e depois continuada pelo trio com toda a cólera possível nos vocais de André Evaristo e com muita determinação em cada solo, em cada toque de bateria ou de baixo, que denotam um majestoso Thrash Metal, que teve a participação de Dino Verdade no ganzá e Paulino Sorriso no quixadá.  Com o AI 5, a repressão subiu aos seus piores níveis e tanto em sua letra quanto no seu ritmo, o Torture Squad traçou um retrato excelente dos fatos.

    Em Never Surrender, a banda paulista mostra em uma linha cadenciada como foram os movimentos de resistência ao regime militar. Nesta época foi quando surgiram os movimentos armados ou terroristas contra os militares, e quando ouvimos alguns "hey..hey", somos expostos a energizantes solos de guitarras e sentimos como será o poder desta faixa ao vivo, que termina com dedilhados no violão e solos mais calmos de guitarra.

    Exibindo os tradicionais repiques militares seguidos por muito peso, In The Slaughterhouse segue Esquadrão de Tortura com um andamento violento, que é conduzido com primor pelo Torture Squad e aí temos expostas em sua letra, as práticas de tortura utilizadas pelos grupos para-militares ( como o Dops, Doi-Codi e Casa da Morte ) sem respeitar os direitos civis das pessoas. As variações de baixo, bateria e guitarra deixam claro o porque que posso realizar a seguinte afirmação: o trio produziu um dos melhores discos de sua frutífera carreira.

    Com dedilhados sombrios e até um tanto melancólicos em seu começo, Conspiracy Of Silence conta em sua urrada letra como foi que o Exército exterminou com os membros da Guerrilha do Araguaia ( em plena Amazônia, que pretendiam transformar o país em uma nova Cuba ) em uma sonzeira que passa de rápida a cadenciada e com vocais agressivos a toda hora, sempre com uma técnica grandiosa, que destacam as participações de Alexey Kurkdjian e Luiz Gustavo Nascimento nos violinos solos, Renato Rossi na viola e Wagner Lavos no violoncelo do Sphaera Rock Orquestra em um ritmo totalmente tenso. Citando os nomes de várias pessoas torturadas e mortas pelo regime totalitário após um solo de baixo e um ritmo destruidor de bateria e guitarra, Nothing To Declare marca a nona do cd em vocais praticamente agonizantes.

    Com os toques orquestrais do Sphaera Rock Orquestra ( marcando uma nova participação do citado quarteto de cordas sob a regência de Alexey Kurkdjian ) em um andamento mais triste, For The Countless Dead ( In Memorian ) exibe versos quase que desconexos dos dois lados da história narrados pela Fernanda Lira ( do Nervosa ) e por Tommy Morriello.

    E isso vai se ligar a dedilhados mais obscuros, que caminham para um ritmo que ganha mais potência em seu decorrer e chegam até as narrações de Brendan Duffey, Fear To The World segue cadenciada para contar como o Brasil foi saindo bastante devagar do regime militar para a sua redemocratização - e como não poderia deixar de ser - tecendo várias críticas ao atual momento político com a globalização solando cada vez mais velozes.

    Depois de trechos rápidos e agressivos, os repiques iniciais voltam para que tudo seja martelado novamente à toda velocidade e questionar em seus versos finais o mundo atual e as possíveis repressões que vivemos em nossos dias. A cada dia que passa temos que ficar mais conscientes politicamente com tudo que está acontecendo ao nosso redor, pois o momento que estamos vivendo é realmente muito perigoso, afinal, pior que uma ditadura militar, só uma disfarçada de democracia, pois já se fala em controle da liberdade de imprensa.

    Sem sombra de dúvidas que o Torture Squad nos expôs somente a um histórico e importante registro do Heavy Metal Brasileiro como também cravou um dos melhores lançamentos que ouvi em 2014, seja daqui ou de fora e imprescindível na coleção de um headbanger. Parabéns Amílcar, André e Castor pela brilhante temática, pelos excelentes riffs de guitarras, baixo e bateria. Esquadrão de Tortura é simplesmente detonador.
Nota: 10,0.

Sites: www.torturesquad.net e http://www.facebook.com/torturesquad.

Por Fernando R. R. Júnior
Dezembro/2014

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