Sodoma - Prisioneiros do Absurdo
25 Faixas - CD Duplo - Dies Irae/Rising Records - 2020
 

    Este resgate do passado feito com primor pela Dies Irae ( e neste caso específico em parceria com a Rising Records ) em seus últimos lançamentos tem se mostrado consideravelmente importante ao apresentar às novas gerações nomes importantes dos primórdios do Heavy Metal no Brasil como é o caso do Sodoma com este Prisioneiros do Absurdo, que foi remasterizado no Vingador Studios e teve sua produção executiva realizada por Ader Jr. e Luciano Elias. Nas suas 25 faixas temos o álbum Prisioneiros do Absurdo, além de versões Demo de algumas composições, faixas Ao Vivo e Entrevistas.

    A capa original em preto e branco está no cd, que ganhou uma luva ( slipcase ) colorida feita por Alcides Burn, que mostra o cenário de destruição e caos criado pela banda, além de um adesivo com o logotipo da banda e um pôster, e isso, sem mencionar o seu encarte de muitas páginas com fotos, letras e informações. Ou seja, um item para colecionadores mesmo.

    Os pioneiros, desbravadores e animados jovens Edu Heavy ( guitarra ), Gilvan Rato ( vocais ), Angelo Márcio ( baixo ) e Roosevelt Figueredo ( bateria ) da cidade de Natal/RN deram origem ao Sodoma no ano de 1985, após assistirem a um show dos cariocas do Metalmorphose, que concederam uma entrevista para Edu Heavy, o comandante do programa o Metal Pesado da rádio local. O primeiro show já sob o nome de Sodoma e com composições autorais e em português foi no dia 19 de julho de 1986.

    Com o crescente sucesso, Gilvan Rato deu lugar a Sérgio Feitosa ( Serpentário ) nos vocais e com ótimos instrumentos nas mãos, eles tocaram fora de Natal, já percorrendo o circuito Heavy Metal do Nordeste Brasileiro realizando apresentações em locais como o Necrofestival em Fortaleza/CE no dia 10 de janeiro de 1987, depois em Recife/PE no Teatro Apolo no dia 28 de março de 1987 abrindo para o Taurus, que lançava o álbum O Signo de Taurus. Foi nesta época que Paulão Vianna ( Serpentário ) entrou no Sodoma e se tornou o segundo guitarrista da banda. Assim, eles partem para a gravação de sua demo tape e Angelo Márcio foi substituído por Alexandre Feitosa no baixo e com este line up, o Sodoma foi atração da Festa do Boi abrindo para o Metalmania do mestre Robertinho do Recife e outro realizou show no Palácio dos Esportes.

    A fita demo Prisioneiros do Absurdo foi gravada na casa de Edu Heavy em um estúdio improvisado e com Franklin Novaes como o técnico de som. Assim, com esta demo nas mãos, Paulão Vianna viajou para o Rio de Janeiro/RJ, e pouco dias depois, já ao lado de Edu Heavy, a dupla se ambientava nos pontos mais importantes do Heavy Metal da cidade maravilhosa com visitas na sede da Revista Metal e nas rádios Fluminense e Transamérica, além de lojas e selos de Heavy Metal conseguindo propostas de gravadoras, porém, a exigência que cantassem em inglês esfriou os seus ânimos, que se encerraram após o acidente automobilístico fatal de Edu Heavy.

    Entretanto, o sonho de ver um cd do Sodoma finalmente aconteceu 33 anos depois com o resgate da velha fita K-7, que se tornou este álbum duplo Prisioneiros do Absurdo, cuja formação da banda era Sergio Feitosa nos vocais, Eduardo Alves e Paulo Vianna nas guitarras, Alexandre Freitas no baixo e Roosevelt Figueredo na bateria. Depois de conhecer um pouco da história destes guerreiros do Heavy Metal brasileiro vamos à suas composições.   

    O disco começa sombrio nos repiques de bateria feitos por Roosevelt Figueredo e também com os dedilhados de guitarras nos expondo a faixa título Prisioneiros do Absurdo, um Heavy Metal rápido moldado com primazia nas influências da banda ( dos grandes nomes da NWOBHM ) pronto para capturar os fãs, pois, eles nos entregam vocais transbordando energia e também solos de guitarras rápidos e eletrizantes.

    Depois deixam a voltagem fluir com Fisgada Letal, outro Heavy Metal de alta velocidade e com o DNA do estilo feito no Brasil nos anos 80 até com uma certa crueza, que destaco os vocais de Sérgio Feitosa, bem com seus dedilhados nos pontos certos e seus solos de guitarras. Para Anjo de Fogo sentimos aquela vibração inerente às bandas de Heavy brasileiras que faziam uma sonoridade direta e calcada nos solos velozes e melódicos, que sempre explodem adrenalina conduzindo à um refrão que te convoca a socar o ar e cantar com a banda, ou seja, te atinge em cheio.   

    Sempre com melodia, peso e velocidade em evidência, o Sodoma disparava canções consistentes como esta Torres do Silêncio, que agora nós podemos saber porque eles alcançaram um destaque outrora, sendo que aqui eles nos colocaram diante de um verdadeiro Heavy Metal fulminante. Um pouco cadenciada, a quinta de Prisioneiros do Absurdo é a canção que empresta seu título para a banda, a Sodoma que é repleta de riffs incansáveis em um ritmo devidamente rude na mais raivosa das faixas até aqui.

    E a avalanche metálica - que se fosse hoje em dia poderia dizer que flerta com o Thrash - continua com a impiedosa Divina Tormenta, que sofre uma ótima alteração em seu andamento cativando o ouvinte nos solos feitos por Edu Heavy e Paulo Vianna, cuja letra é sobre os pilotos Kamikazes japoneses, que tanto estrago causaram na II Guerra Mundial, porém, olhando pelo lado deles. Em seguida temos a Inferno III, que começa melódica e depois, o Sodoma aplica todo o ímpeto de seu Heavy Metal em seu ritmo que é orientado pelos solos de guitarras e também pelas viradas de bateria sendo demasiadamente inflamável, pronta para que você cante com o vocalista e agite bastante em sua audição.

    A última das composições originais dos anos 80 do Sodoma é a Alucinações em 2010, que é iniciada com um riff e uma linhagem bastante envolvente para uma letra um tanto que apocalíptica, mas, que não chega ser um exagero, se considerarmos alguns crimes que vemos nos noticiários atuais. E muito da crueza destas faixas se deve às suas gravações, quase que amadoras em uma mesa de quatro canais, mas, que capturou a banda sem polimentos.

    A instrumental Pesadelo ( Unreleased Demo ) é a primeira raridade deste Prisioneiros do Absurdo e se trata de um registro com apenas Edu Heavy na guitarra, Roosevelt Figueredo na bateria e Angelo Feitosa no baixo gravada em novembro de 1986 em que o Sodoma já demonstrava muita qualidade na criação de suas composições. Fechando este primeiro cd temos a faixa Entrevista FM Transamérica em que Edu Heavy e Paulão Vianna falaram sobre a banda e o estilo Heavy Metal no Nordeste dos Anos 80 na FM Transamérica do Rio de Janeiro no longínquo julho de 1987.   

    No segundo cd temos mais 15 faixas, sendo que as duas primeiras foram gravadas em janeiro de 1987 em um ensaio da banda e são: Inquisidor ( Ensaio ) e Senhores do Poder ( Ensaio ), que obviamente sua qualidade de gravação são inferiores às demais, se compararmos com as que estão no primeiro cd, entretanto, no quesito raridade e no padrão de Heavy Metal promovido pelo Sodoma percebemos que estamos diante de uma banda de nível notável e que poderia ter ido muito longe.

  Depois nas músicas seguintes presentes nesta edição dupla de Prisioneiros do Absurdo temos partes de dois shows do Sodoma, sendo que o primeiro foi a participação no show de abertura para o Pronav no Palácio de Esportes em Natal/RH no dia 18 de novembro de 1987, onde executaram Ku Klux Klan ( à toda velocidade ); Senhores do Poder ( com suas fascinantes melodias, riffs rápidos e vocais com garra ); Torres do Silêncio ( literalmente dinamitando os ouvidos ); Pesadelo ( a instrumental citada anteriormente que aqui exibiu muitos de solos cheio de fervor ); Inferno III ( incendiando com a gama frenética de seus solos de guitarras ) e por fim, Alucinações em 2010 ( mais ardente, se comparada com a versão de estúdio ).

    E fico pensando aqui... como naquela época, e no Brasil, eles conseguiram esta gravação, afinal, nos anos 80 era muito mais difícil gravar os shows até por conta do tamanho de um gravador. A segunda apresentação que faz parte deste Prisioneiros do Absurdo aconteceu no Festival Decibéis Metálicos ao lado do Metralion e do Horus no dia 29 de janeiro de 1988 no Centro de Turismo de Natal/RN e logo em Prisioneiros do Absurdo reparamos que foi melhor registrada e o Sodoma não tinha medo de colocar 'fogo na casa' com seu vibrante Heavy Metal.

    O set prossegue com um medley de Alucinações em 2010 e Anjo de Fogo em que sentimos o poderio sonoro do quinteto no palco, que recebe a participação dos presentes em Fisgada Letal, onde também reparamos como seus dedilhados impactam os fãs e como seus solos enviavam a pegada Heavy Metal puríssima do Sodoma, que certamente fez muitos agitarem e aumentarem essa energia durante a intensa Ku Klux Klan, que é exibida em uma velocidade simplesmente esmagadora deixando claro a garra da banda.

    Na parte final deste histórico show, o Sodoma disparou a Senhores do Poder, que ao vivo podemos apreciar suas linhas melódicas e seu peso com mais prazer. Em seguida temos a voraz Divina Tormenta, que ao vivo teve seus solos exalando mais formosura em sua linhagem Heavy Metal. E finalizando estas mais de duas horas neste cd do Sodoma, o Heavy puro sangue da banda se encerra com Inquisidor.

    Deseja saber como o Heavy Metal no Brasil, e em especial, no Nordeste nasceu e caminhou em seus primórdios? Então mergulhe fundo em um de seus precursores com este Prisioneiros do Absurdo dos lendários pontiguares do Sodoma, que retornaram em 2020 com esta formação: Gil Oliveira ( vocal ), Paulão Vianna e Hugo Albuquerque ( guitarras ), Wilton César ( baixo ) e Damião Paz ( bateria ).
Nota: 8,5.

Por Fernando R. R. Júnior
Março/2020

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