Entrevista com Thiago Bianchi do Noturnall

"E uma agora das que eu mais me orgulho: a primeira banda de Metal da história a ter um duelo de bateria numa música e sendo eles nada mais nada menos do que Henrique Pucci e Mike Portnoy"

    O Noturnall se prepara para a realização da Redemption Tour no Brasil, que levará ao público brasileiro muitas novidades de uma só vez: a divulgação do mais novo lançamento a banda, o álbum Cosmic Redemption; a estreia do novo line up da banda com a inclusão do guitarrista Mike Orlando junto a Thiago Bianchi, Saulo Xakol e Henrique Pucci; a participação na tour de Mike Portnoy e Edu Falaschi; o novo clipe para a música Scream For Me; o DVD gravado na Rússia em shows que dividiram o palco com o Disturbed; a participação da banda no Rock In Rio.

    E  para conhecer um pouco dessas novidades do Noturnall e muita outras curiosidades, o Rock On Stage através do jornalista Fernando R. R. Júnior conversou com o líder da banda, o simpático vocalista e produtor Thiago Bianchi, confira os detalhes na entrevista logo abaixo.

Rock On Stage: O Noturnall é uma banda que sempre está inovando e apesar de sempre contar com músicos experientes, é uma banda nova, com apenas 5 anos de atividades. Te peço para começar contando um pouco do que de melhor já aconteceu com vocês neste período, algum fato engraçado ou marcante ou ainda até algum acontecimento mais difícil.
Thiago Bianchi:
Bom, Rock On Stage, muito obrigado pelo espaço! Fala galera do Metal brasileiro e em qualquer lugar do mundo em que você esteja nos lendo nesse momento, é um grande prazer estar aqui.

    Sim, a Noturnall é uma banda muito nova, mas ela traz, em sua bagagem, muita história dos membros que nela estão... Shaman, Adrenaline Mob, Angra, Project 46, Karma… São bandas das quais fazemos parte da árvore genealógica e que, desde o começo, trazem uma aura diferenciada para a Noturnall. Em apenas 5 anos são mais de 300 shows pelo mundo, duas turnês europeias, quatro turnês nacionais ( todas essas a bordo do próprio ônibus plotado ) e, recentemente, com o lançamento do nosso clipe por vir, a primeira banda brasileira a ter um 'capotamento' em seu clipe, aos moldes hollywoodianos, estilo flying spin. E uma agora das que eu mais me orgulho: a primeira banda de Metal da história a ter um duelo de bateria numa música e sendo eles nada mais nada menos do que Henrique Pucci e Mike Portnoy.

    De fato, tem sido uma viagem e tanto e, em pouquíssimo tempo, alcançamos marcas do tipo: ser a banda com um dos shows mais relevantes da história do Rock in Rio, apontada pela Folha de São Paulo; ser a única banda brasileira a lançar um DVD gravado na Rússia; DVD's lançados com participações especiais do calibre de Russell Allen ( Symphony X ), James LaBrie ( Dream Theater ), Michael Kiske ( Helloween ) e agora, recentemente, com Mike Portnoy ( The Winery Dogs, Sons Of Apollo, ex-Dream Theater ), que gravaremos durante nossa turnê com ele passando por nove cidades do Brasil.

    Somos muito lembrados também pela participação da minha mãe, Maria Odette, que lançou Caetano Veloso, por sua participação no Rock In Rio e também no clipe de Woman In Chains. Temos também algumas ações sociais muito legais na nossa história. Bom, eu poderia ficar horas aqui, afinal tenho muito orgulho dessa banda. Espero que não me entendam mal, mas foram vocês que perguntaram ( risos ).

 

Rock On Stage: Sem problemas Thiago, a ideia é essa mesmo, que você conte curiosidades para nós. Comente um pouco do seu trabalho no Estúdio Fusão, bandas que já produziu, como foi montar um estúdio de gravação, as dificuldades encontradas, a alegria em produzir um trabalho.
Thiago Bianchi:
Comecei o Fusão com minha mãe, quando eu tinha apenas 15 anos, pois, ela precisava de um estúdio pra gravar, e eu de um estúdio para ensaiar, então usamos todas as nossas economias para montar o Estúdio Fusão, mas, logo minha mãe se aposentou e comecei a tocar o estúdio sozinho.

    De lá pra cá são mais de 300 discos produzidos, dentre eles nomes como Kiko Loureiro, Angra, Timo Tolkki ( ex-Stratovarius ), Shaman, a própria Noturnall, e por aí vai. Algumas indicações ao Grammy Latino, discos de ouro e prêmios pelo mundo.

    Mas, mesmo com o avançar dos números no meu currículo, produzo os discos sempre como se fosse a primeira vez, ou seja, com muita garra, muita paixão e carinho aos detalhes. E, claro, contando cada vez mais com a experiência. Entendo que a coisa toda tenha funcionado tão bem pois, como fui criado no meio dos músicos, por conta da turma de amigos da minha mãe, a língua do músico é a única que eu sei falar.

Rock On Stage: Um ponto que quero mencionar nesta entrevista é o foco do Noturnall em apoiar instituições que cuidam de crianças com Câncer, como foi o caso do DVD First Night Live, que teve toda a bilheteria de sua gravação para a Casa Hope. E isso, sem mencionar a ajuda ao GRAACC, que em ambos os casos lhe dou o parabéns.
Thiago Bianchi:
Sim, com certeza é algo de que temos muito orgulho. Como você mesmo mencionou, dedicamos boa parte de nossas entradas ao cunho institucional, principalmente voltado às crianças.

Rock On Stage: No álbum 9, o terceiro da banda, vocês o lançaram, além das versões em plataformas digitais e na física em cd, na DLP ou Digital Long Play, o que foi algo surreal... a capa de um disco como se fosse um LP e um pen-drive com as músicas. Como foi a aceitação deste novo e inovador formato e das músicas do álbum 9.
Thiago Bianchi:
Ok! Uau, você veio afiado para essa entrevista hein? Hahaha! Sim, faz parte de uma de nossas vitórias mais celebradas, que foi o lançamento desse DLP, que consiste em exatamente o que você disse ( uma capa de LP com um pen drive dentro ), e foi uma ideia nossa, em parceria com a Edifier Brasil, onde criamos, do zero, esse modelo de se vender música. Foi algo tão diferente que chamou a atenção até da Som Livre e de outras gravadoras, que, inclusive, lançaram artistas dessa forma ( Tributo ao Wander Taffo, Alírio Netto, etc ).

Rock On Stage: Comparando o atual momento político brasileiro com a capa do álbum Back To Fuck You Up!, vocês avaliam que o Brasil está realmente pegando fogo? E podemos tem esperança no futuro com alguma melhoria?
Thiago Bianchi:
Olha, aprendi a duras penas a não misturar música com política, mas, infelizmente, devo admitir que aquela capa nunca foi tão atual, e eu acho que sempre será. Enquanto tivermos essa corja de animais imundos tratando o Planalto como uma privada.

 

Rock On Stage: Em 2018 e 2019 vocês sofreram algumas baixas com as saídas de Junior Carelli nos teclados, Fernando Quesada no baixo, Aquiles Priester na bateria, Leo Mancini e Bruno Henrique nas guitarras, enfim, basicamente uma reformulação completa na banda sobrando somente você, Thiago Bianchi, queria pedir-lhe para comentar as saídas dos músicos e a escolha do novo line up com Henrique Pucci na bateria, Saulo Xakol no baixo e especialmente, Mike Orlando na guitarra.
Thiago Bianchi:
Bem, repito: você chegou afiado! Sim, aos 47 do segundo tempo tivemos momentos de atribulações e, infelizmente, por conta de direcionamento artístico e agendas, acabamos trilhando novos caminhos. Mas, eu acredito que, igual a tudo nessa banda, ela se destaca em muitos pontos, até quando eles são negativos.

    Eu não poderia estar mais feliz com a situação atual da banda. Em menos de um ano de lançamento da nova formação, já tocamos pela segunda vez no Rock In Rio, fizemos uma turnê com o Disturbed pela Rússia ( como disse anteriormente, será um DVD ), lançamos um vídeo com a participação de Mike Portnoy e, finalmente, uma turnê pelo Brasil com o próprio Mike Portnoy e com Edu Falaschi, grande amigo, herói e parceiro. Isso sem contar os novos planos, que vou dar um spoilers aqui ( espero que os meninos não me matem ), mas já estamos em negociação para a nossa primeira tour pelo Japão, em 2020.

    Então, como pode ver, Mike Orlando, Henrique Pucci e Xakol levaram a banda não só a outro nível de jogo, mas também trouxeram muita luz para o futuro dessa banda. De tudo que eu poderia ficar falando dos caras aqui, o que mais me impressiona, de fato, é que, mais do que tudo, eles têm estrela, e a estrela deles brilha forte.

 

Rock On Stage: Antes de falarmos do novo giro pelo Brasil, quero que nos conte como foi a turnê com o Disturbed em palcos russos. Como foi a aceitação dos headbangers russos e o relacionamento com os membros do Disturbed.
Thiago Bianchi:
A turnê na Rússia foi, com certeza, uma das mais insanas de toda a minha carreira, e isso, vindo de um cara que já gravou um DVD na Europa com orquestra.

    A aproximação aconteceu por conta de Mike Orlando e John Moyer, que são ex-parceiros de Adrenaline Mob, e dessa amizade entre os dois pintou o convite. Nem preciso dizer que os shows foram dignos de serem, realmente, registrados num DVD. Isso eu assumo que foi, de fato, um golaço! Pois, se voltássemos desses shows com apenas vídeos de YouTube na memória seria um desperdício… Que noites!!!

    A Rússia é um país em franca abertura de sua cultura para o ocidente, então, é visível que eles não estão totalmente acostumados a shows de Metal do mundo afora. Ou seja, a energia com a qual eles nos receberam foi tão grande quanto a que o próprio Disturbed recebeu. E o Disturbed, inclusive, nos agradeceu no palco, nos chamando de uma das bandas de abertura mais legais que eles já tiveram. Então por aí você tira o naipe de como foi a coisa.

Rock On Stage: Inclusive estes shows resultaram em um DVD Made In Russia, o que já pode nos adiantar sobre ele?
Thiago Bianchi:
Mal posso esperar para que todos vejam! Uma coisa engraçada de ser o diretor e produtor dos próprios trabalhos é, literalmente, conter a ansiedade de que as pessoas vejam o material pronto. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que esse DVD é um dos trabalhos mais sólidos que já fiz em toda a minha carreira.

    Queria aproveitar o espaço aqui para agradecer, do fundo do meu coração, o diretor Rodrigo Rossi, da Glow Produções, com quem venho trabalhando na nova fase da banda, e o editor Daniel Mazza, que é quem tem pilotado as edições de todos os trabalhos recentes e dos que estão por vir.

Rock On Stage: A Redemption Tour 2019 marcará a estreia no Brasil de Mike Orlando na guitarra do Noturnall e contará com Mike Portnoy na bateria se apresentando na sua maior tour pelo Brasil, conforme ele mesmo falou, e isso, além de ter Edu Falaschi participando como convidado. Bem, te peço para nos contar um pouco de como será a turnê, como será o set list e também como funcionou a escolha das muitas bandas de abertura pelas nove cidades brasileiras.
Thiago Bianchi:
Bom, de antemão você mesmo já liquidou a fatura: essa é turnê dos sonhos! Ponto final. E deixa eu dar um spoiler logo do fim desse filme: será uma noite recheada de clássicos do Dream Theater e, claro, também do Adrenaline Mob, uma vez que os fundadores da mesma estarão no palco juntos novamente.

    Como você bem disse, também teremos Edu Falaschi, cantando alguns clássicos de sua carreira, vindo de sua vitoriosa turnê mundial, e ainda dividirá o palco comigo numa bela homenagem ao Andre Matos. Mas, a parte que estou realmente ansioso é mostrar as novas músicas da Noturnall para vocês.

    As bandas selecionadas para a abertura dos eventos fazem parte de uma bandeira que venho levantando há muitos anos, a de fortalecer, cada vez mais, a cena Metálica Brasileira. Na verdade não houve seletiva oficial, mas sim algo natural, pois, se não todas, a maioria são bandas que estão sendo produzidas por mim aqui no Fusão ou que já tiveram alguma história comigo. Gostaria de receber mais material de bandas do Brasil, pois, sou um cara muito curioso com o que rola no cenário brasileiro.

Rock On Stage: Também Thiago, sou bastante curioso quanto às bandas nacionais... bem, tivemos a inestimável perda de Andre Matos neste ano, e vocês tocaram por muito tempo no Shaman, banda que ele participou de sua fundação. Peço-lhe para nos contar um pouco como será a homenagem feita pelo Noturnall na Redemption Tour.
Thiago Bianchi:
Tá aí uma resposta que não posso prover inteiramente. O que posso adiantar é que será muito, muito especial, uma vez que teremos os dois vocalistas do Brasil mais intrinsecamente ligados ao Andre, cantando um de seus maiores clássicos. Agora, como isso vai acontecer… Realmente, não posso estragar a surpresa.

Rock On Stage: Aliás, o que já pode ser antecipado para nós do novo álbum Cosmic Redemption? Qual o direcionamento terão suas faixas?
Thiago Bianchi:
Seremos fiéis às raízes que nos trouxeram até aqui, adicionando muito da bagagem dos novos integrantes. De cara, o primeiro single será Scream For Me!, do clipe do capotamento citado acima, e com a participação de ninguém mais, ninguém menos que Mike Portnoy. Uma verdadeira pedrada ao maior estilo Noturnall!

    Logo na sequência, teremos o lançamento do single Cosmic Redemption, que também será um marco em vídeos da banda, pois, será recheado de computação gráfica aos moldes Marvel, uma vez que a história se passa em Marte. Como podem ver, valerá a pena esperar!

Rock On Stage: Como foi o processo de composição, de gravação e de produção do álbum Cosmic Redemption? E quais suas expectativas quanto à aceitação do público?
Thiago Bianchi:
Tem se mostrado o disco mais importante de minha carreira, até agora, pois é a primeira vez que o principal obstáculo para chegar ao máximo somos nós mesmos. Estamos encarando essa nova fase como uma verdadeira redenção cósmica. Daí o nome do disco.

 

Rock On Stage: Muito curioso e ao mesmo tempo interessante são as mulheres zumbis pole dancers que fazem parte dos shows Noturnall, sendo que desta vez a escolhida é a Larissa Miotto, a ideia é levar aspectos teatrais de horror para os shows também?
Thiago Bianchi:
Sim, você não poderia estar mais certo. Nosso primeiro show do Rock In Rio foi muito celebrado justamente pela plástica impressa na apresentação, onde o ponto de vista principal é o "espetáculo". Já em nossa turnê pelo Brasil com James LaBrie no ano retrasado, passamos a trazer também elementos de ilusionismo e mágica, com o mágico Wander Rabelo.

Rock On Stage: De volta ao Rock In Rio. Peço-lhe para nos contar sobre o sentimento e as expectativas suas com o show e com o festival no dia que vão tocar, onde teremos no Palco Supenova nomes como Armored Dawn, Jimmy & Rats, Eminence e Fire Strike. E isso sem mencionar as atrações do Palco Sunset e Mundo neste Dia do Metal com Iron Maiden, Scorpions, Sepultura, Slayer, Anthrax... ufa!!! E uma curiosidade extra, depois do show você vai correr para conferir os shows do Iron Maiden e Scorpions?
Thiago Bianchi: Rock In Rio
sempre foi e sempre será o ápice e o maior sonho de qualquer banda fazer parte. Como muitas vezes mencionado acima, tenho grandes lembranças e muito orgulho de fazer parte da história do evento. Com certeza estarei lá para prestigiar todos os shows que conseguir!

Rock On Stage: Muito obrigado pela entrevista, deixo o espaço para suas considerações finais e também para convidar os leitores(as) do Rock On Stage para os shows de Redemption Tour no Brasil e o show do Rock In Rio.
Thiago Bianchi:
Então é isso aí, galera! Um grande abraço a todos, muito obrigado pelo espaço e nos vemos na estrada!

Por Fernando R. R. Júnior
Agradecimento especial para Ana Paula Romeiro
Outubro/2019

Voltar para Entrevistas